Múltiplos papéis da biblioteca na formação de leitores
Pesquisadora da Faculdade de Biblioteconomia da PUC-Campinas idealiza ação cultural em biblioteca para estimular leitura em crianças do ensino fundamental
Por Patricia Mariuzzo
Incentivar o hábito de leitura a partir da prática de contação de histórias na biblioteca da escola. Este foi o objetivo da ação cultural idealizada pela professora da Faculdade de Biblioteconomia da PUC-Campinas, Cleonice Aparecida de Souza. Em parceria com a aluna Tiani Silvestre Teixeira Claudino Gilz, ela idealizou uma ação cultural na biblioteca da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vicente Ráo, localizada na região do Parque Industrial, em Campinas, envolvendo 220 crianças do primeiro ao quinto ano, com idades entre 6 e 10 anos. “A partir dos ensinamentos de Paulo Freire, buscamos criar uma experiência na qual as crianças pudessem aprender de forma interativa e com liberdade, que não precisam somente ouvir ou ler histórias, mas que também podem ser protagonistas”, disse Cleonice. O trabalho foi apresentado na edição deste ano do Congresso de Leitura do Brasil (COLE).
A ação cultural, que aconteceu em 2018, consistiu em simular um acampamento com contação de histórias no espaço da biblioteca da escola. As pesquisadoras da PUC montaram um cenário com uma fogueira lúdica, rodeada por almofadas e tecidos. O teto foi enfeitado com fios de led para criar uma impressão de um céu estrelado. Sons de animais noturnos da floresta complementaram o ambiente lúdico onde os alunos ouviam histórias. Os alunos dos primeiros anos tiveram uma contação de histórias e, ao final, eram convidados a opinar sobre ela. Já os alunos dos segundos, terceiros, quartos e quintos anos ouviam as histórias e podiam dar continuidade à narrativa. “Utilizamos uma abordagem que permite aos alunos usarem sua imaginação para criar suas próprias histórias”, explicou Cleonice.
Educação das sensibilidades – A ação se baseou no pressuposto de ver a biblioteca para além de um local de estudo ou para empréstimo de livros, mas como um espaço de aprendizagem e de educação das sensibilidades, como um espaço capaz de ampliar a imaginação. E isso é ainda mais importante na infância porque, conforme explica Cleonice, é na nesta etapa da vida que descobrimos o que nos encanta, criamos as memórias afetivas que vão nos ajudar a compreender melhor o mundo e quem somos. “Um aluno que desenvolve o gosto pela leitura a partir dos livros que lê por diversão vai ter menos problemas quando começar a ler livros mais técnicos, do que um aluno que passa a ler somente por obrigação e que não compreende a importância de ler”, explica ela.
Já há alguns anos as bibliotecas fazem mais do que emprestar livros. Quando se trata da biblioteca escolar, é fundamental reforçar o contato dos alunos com a biblioteca durante sua formação, reforçando outras possibilidades como oficinas, rodas de conversa, clube do livro, atividades culturais, e principalmente, a contação de histórias. “E é um contar por contar, para que por meio delas, as crianças possam sonhar, possam acreditar podem sonhar”, destaca a professora da PUC-Campinas. Segundo ela, ações como esta possibilitam interações diferenciadas entre a sala de aula, o professor e a biblioteca, contribuindo para criar uma experiência significativa para os alunos que, de leitores, passam também a ser contadores de histórias.
Despertando a imaginação – Os desafios, no entanto, não são poucos. O primeiro é fazer com que as crianças acreditem que são capazes e soltem a imaginação. “Analisando o resultado de cada turma, as principais dificuldades encontradas foram: manter a sequência da história que estava sendo contada para não fugir da sua essência, se desprender das histórias que eles já conhecem e imaginar novas possibilidades, personagens e acontecimentos. Há ainda o medo de errar ou a vergonha de falar na frente dos colegas, e principalmente, o susto em se tornar o protagonista”, contou Cleonice. “Eles estão acostumados em ter o professor conduzindo o aprendizado e experiência escolar, então quando se tornam protagonistas, vêm o estranhamento de ser o responsável por fazer com que uma história tome forma e se torne mais do que somente palavras”, complementou. Segundo ela, um dos objetivos da ação foi justamente esse, fazer com que o aluno perceba que ele pode ser o protagonista não só de uma história, mas do seu aprendizado como um todo”, finalizou.