D. João fala sobre Campanha da Fraternidade e diz que a fome de uma pessoa deve incomodar os cristãos
Arcebispo Metropolitano de Campinas lembrou dos princípios das primeiras comunidades cristãs
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriu na Quarta-feira de Cinzas a Campanha da Fraternidade 2023 sobre a Fome no Brasil com o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. A missa, realizada na capela Nossa Senhora Aparecida, na sede da entidade, foi dedicada à vivência de uma “abençoada Quaresma e uma santa Campanha da Fraternidade”.
O Arcebispo Metropolitano de Campinas e Grão-Chanceler da PUC-Campinas, D. João Inácio Müller, falou sobre a campanha. “A Campanha da Fraternidade é o modo brasileiro de celebrar a Quaresma. É a terceira vez que tem a fome como tema. Milhões de brasileiros e brasileiras vivem a triste situação de não ter com que se alimentar ou alimentar seus filhos e filhas. Hoje, 33 milhões de brasileiros enfrentam a fome, vítimas de uma estrutura social e política que concentra os bens nas mãos de poucos, de maneira especial os alimentos, que são mercadorias e quem não tem dinheiro passa fome”, disse.
Ele também lembrou dos princípios das primeiras comunidades cristãs. “A fome é resultado de uma profunda incoerência dos cristãos que se dizem seguidores daquele que veio para multiplicar os alimentos. Estamos muito distantes das primitivas comunidades cristãs, que tinham tudo em comum, partiam o pão pelas casas com alegria e simplicidade de coração. A fome de uma pessoa deve nos incomodar. Como foi que nos tornamos indiferentes à fome de tantos irmãos e irmãs?”, questionou.
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“O Papa Francisco diz que Jesus tinha sempre compaixão, pensava sempre nos outros, se comovia, não era indiferente, não tinha o coração enrijecido. Dentro da realidade da fome e do ensinamento de Jesus não é possível ficar parado. Engajemo-nos todos na vivência da Campanha da Fraternidade e no Domingo de Ramos ofereçamos gestos concretos de solidariedade abençoada à Quaresma”, disse D. João.
O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, também dedicou a celebração às pessoas que experimentam a realidade da fome, aos atingidos e vítimas das chuvas no litoral Norte de São Paulo, guerras, catástrofes e situações de violência.
Neste ano, dom Joel pontuou que a Igreja vai aprofundar o tema da fome. “O Brasil enfrenta o flagelo social e humanitário da fome, fenômeno que demonstra a incapacidade de um país em oferecer para seus filhos e filhas as condições necessárias para satisfazer o seu instinto de sobrevivência e desenvolvimento como pessoa. “Quando a sobrevivência não é atendida é a morte que acontece. Assistimos recentemente o que está acontecendo com os Yanomami”, exemplificou.
O lançamento oficial foi no auditório dom Helder Câmara e conduzido pelo assessor do Setor de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen. Na cerimônia foi apresentada a mensagem que o Papa Francisco, mantendo a tradição dos papas, enviou ao Brasil por ocasião da Campanha da Fraternidade 2023. Seu desejo expresso no texto é que a reflexão sobre o tema da fome, proposto pela CNBB aos católicos brasileiros no Tempo da Quaresma, seja “uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome”.
A intenção é que essa reflexão gere em todos, diz o Papa, “a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais”. Na mensagem, o Papa recorda o convite que Deus faz a trilhar um “caminho de verdadeira e sincera conversão” e que a proposta da Campanha da Fraternidade tem o intuito de animar o povo fiel “nesse itinerário ao encontro do Senhor”, com a a proposta de voltar o olhar para os mais necessitados, “afetados pelo flagelo da fome”.
O secretário-geral explicou porque a CNBB optou, pela terceira vez, por tratar o tema da fome. Segundo ele, uma das razões é o fato de o Brasil ter reingressado no Mapa da Fome da ONU. “Se a fome de uma pessoa deve nos incomodar, como nos tornar indiferentes diante da fome de milhões de irmãos e irmãs?”, questionou.
Dom Joel explicou que a Campanha se refere à fome não apenas como fenômeno biológico das necessidades humanas mas com um flagelo social e humanitário. “São aquelas situações em que o modo com uma sociedade está organizada acaba por deixar seus filhos e filhas em estado de insegurança e indigência alimentar”, definiu. O secretário-geral da CNBB explicou que a Campanha segue um caminho metodológico que busca compreender as causas da fome, ouvir a Palavra de Deus para buscar o discernimento e encontrar caminhos de ação.
“Mais do que apenas constatar, compreender e denunciar a triste e vergonhosa atual situação de fome no Brasil, a CF nos convida ao agir, a fazer o que for possível, para que essa triste situação seja extinta. A Campanha da Fraternidade nos insere numa situação de maior urgência no agir”, disse dom Joel.
Com informações da CNBB / Foto: Luiz Lopes/Ascom CNBB