Qualquer pessoa deve contar com avaliação médica para praticar esportes, mas para os atletas profissionais esse cuidado deve ser ainda maior. Segundo o cirurgião cardíaco Eloy da Costa, médico responsável pela equipe que fez a recente cirurgia no jogador Carlos Cezar Souza Filho, o Carlinhos da Ponte Preta, a prevenção é a melhor forma de evitar problemas futuros com atletas profissionais. É através de exames que são constatadas as más formações cardíacas congênitas que muitas vezes podem passar despercebidas, se manifestando apenas quando o corpo é submetido a uma atividade física intensa.
Foi por meio de exames preventivos que o problema de Carlinhos foi detectado a tempo de realizar a cirurgia corretiva, que permitirá ao atleta retornar ao esporte. Ele se submeteu à cirurgia na última quinta-feira, 6 de abril, e está tendo alta hoje (17 de abril). A previsão do médico é que já possa iniciar os treinamentos em três meses.
Das doenças de coração, a cardiopatia congênita é uma das mais comuns, representando cerca de 15% dos casos. Entre as más formações pode-se citar, entre outras, as comunicações interatriais (ligação anômala entre os átrios direito e esquerdo), e as comunicações interventriculares (ligação entre os dois ventrículos por um defeito no septo que também os separam). Este foi o caso do jogador da Ponte Preta.
O volante Carlinhos descobriu o problema cardíaco num check-up de rotina e foi então encaminhado ao Hospital e Maternidade Celso Pierro (HMCP), da PUC-Campinas. “A identificação do problema rápido foi fundamental para a obtenção de um resultado positivo da cirurgia, preservando o coração do atleta e garantindo que possa retomar suas funções como jogador profissional”, explica Costa.
Segundo o cirurgião, a cardiopatia congênita pode passar despercebida durante toda a infância. Mas quando detectada cedo, o ideal é que a criança seja operada entre 4 e 5 anos de idade. “Os pais precisam estar atentos para notar se os filhos sentem-se cansados, ofegantes, se têm uma estatura abaixo do esperado pela idade”, diz o médico.
Na fase adulta, os defeitos cardíacos podem ser identificados por meio de exames periódicos. No caso dos atletas, a atenção e os cuidados devem ser redobrados, alerta o cirurgião. “Os atletas que se submetem a atividades físicas de alta intensidade têm um excesso de fluxo de sangue passando pelo coração, o que pode sobrecarregá-lo e causar lesões”, orienta.
Costa ressalta que no caso do volante Carlinhos o problema foi detectado a tempo de se recuperar e voltar a jogar. Caso contrário, num esforço maior poderia se repetir o que ocorreu com o zagueiro Serginho, do São Caetano, que morreu em campo em 2004.
Neste primeiro mês pós-operatório o volante pontepretano fará uma série de avaliações cardiovasculares para acompanhamento do quadro clínico. “Se o quadro do paciente continuar em evolução como está, em três meses poderá retornar aos treinos no time”, prevê Eloy da Costa.
Serviço de Cardiologia
O Serviço de Cardiologia do Hospital e Maternidade Celso Pierro (HMCP), da PUC-Campinas, sob responsabilidade do médico José Francisco Kerr Saraiva, conta com 25 cardiologistas e 3 residentes. O Serviço é composto por Hemodinâmica (Cateterismo Cardíaco) com capacidade de realizar 10 atendimentos por dia, Unidade Coronária com 7 leitos e exames de ergometria, holter, ecocardiograma e eletroencefalograma e consulta médica, todos com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e convênios privados e particulares.
Hoje, Campinas possui uma demanda de 1.300 procedimentos cardíacos por ano, mas são feitos apenas 200. O Serviço de Cardiologia do Hospital e Maternidade Celso Pierro, estruturado com as Unidades Coronária e Hemodinâmica, aguarda o credenciamento com o SUS, para tentar suprir esta demanda, realizando em média 20 cirurgias por mês. Para se ter uma idéia a Unidade de Hemodinâmica do Hospital, onde é realizado o cateterismo, tem atendido somente pacientes de convênios.