Você tem medo de ir ao dentista? Se a resposta for sim, o grupo de pesquisa Dentística Minimamente Invasiva, da PUC-Campinas, pode lhe ajudar. Existente desde 2004, o principal objetivo do grupo é pesquisar alternativas que melhorem a qualidade do tratamento odontológico, e como o próprio nome já diz, com a menor intervenção possível no dente do paciente. “Isso faz com que se diminua o tempo de tratamento, as consultas sejam mais rápidas e o custo seja menor”, explicou o professor líder do grupo, Sérgio Luiz Pinheiro. Os pesquisadores trabalham em duas linhas de pesquisa: uma que estuda a maneira de tratar a cárie de modo menos traumático possível, e outra que retira o tártaro de forma menos invasiva e comprometedora à gengiva.
O modo estudado de combate à cárie é inédito na odontologia e pode ser implementado na rede municipal de saúde até o começo do ano que vem, segundo Pinheiro. Em vez de retirar todo o dente cariado, o grupo primeiramente identifica duas partes do problema: 1) a lesão de cárie, uma camada mais superficial, infectada pela cárie e 2) uma segunda camada, mais abaixo, que apresenta os produtos resultantes da cárie. Essas duas partes são separadas em totalmente degradado (CTD), que é a parte mais superficial, e parcialmente degradado (CPD), que se localiza na parte mais profunda do dente e apresenta grande potencial de reparo, não precisando ser retirada pelo dentista. “Isso nos poupa de ter de fazer tratamento de canal ou colocar uma prótese”, explicou Pinheiro.
Testando os resultados em pacientes da Clínica de Odontologia da PUC-Campinas, o grupo utilizou um corante que identifica as partes infectadas e não-infectadas: as primeiras ficavam pretas e as segundas vermelhas. Isso serviu para averiguar quais partes são recuperáveis e quais não são, sem haver a necessidade de retirar todo o tecido cariado do dente. Após retirar a parte infectada, os pesquisadores selam o dente do paciente com cimento antibacteriano, com hidróxido de cálcio (substância que gera um pH em torno de 12, considerado básico) ou com sistemas adesivos. “As bactérias trabalham num pH neutro, por volta de seis. Ao utilizar substâncias com pH diferente, elas morrem”, contou a estudante do 3° ano da Faculdade de Odontologia Íris Nogueira Bincelli, integrante do grupo, que conta ainda com mais quatro alunos de iniciação científica e também com os professores Pedro Barros e Gustavo Silva.
Já foram coletadas amostras de 20 pacientes. “A média da parte recuperável do dente antes do selamento da dentina infectada com cárie foi de 12,71%. Após 90 dias de tratamento, esse número subiu para 42,72%. No local afetado pela cárie, a parte recuperável subiu de 32,3% para 57%”, explicou Pinheiro.
Grupo testa laser contra o tártaro
A outra linha de pesquisa do grupo da PUC-Campinas é baseada na redução de bactérias após a remoção do tártaro utilizando o laser como ferramenta. Segundo os especialistas, o tártaro é como se fosse uma pedra que fica perto da gengiva e é responsável por promover a perda óssea, deixando o dente mole.
De acordo com o professor Sérgio Luiz Pinheiro, na raspagem manual do tártaro, normalmente, sobram resquícios das bactérias que causam o problema. Mas, com a técnica a laser, chamada de terapia fotodinâmica e aplicada após a raspagem convencional, houve uma redução de 95,9% dos microorganismos nos testes efetuados.
Dez pacientes foram objeto de estudo do grupo. A aluna do 4º ano de Odontologia Talita Lopes pretende utilizar os resultados obtidos em seu Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC. “Nosso grande desafio agora é poder implementar esse tratamento na rede pública, pois ele ainda é caro”, ressaltou a aluna.