“Econimismo” coloca protagonismo feminino em debate na Universidade
Evento com exposição e palestras teve encerramento com Presidente do IPEA e Secretária Municipal de Cultura
O evento Econimismo, realizado na PUC-Campinas no dia 20 de março, promoveu uma série de atividades durante todo o dia, destacando lideranças femininas e economistas mulheres. Foram realizados debates, palestras e exposições, tendo como encerramento uma palestra da Presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Dra. Luciana Servo, e da Secretária Municipal de Cultura, Alexandra Caprioli. O evento foi aberto pelo Decano da Escola de Economia e Negócios (EEN), Prof. Me. Eduardo Frare, e pelo Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas, Prof. Me. Roberto Brito de Carvalho, além da presença de diretores e professores dos diversos cursos da EEN.
Luciana Servo é a primeira mulher negra a assumir a Presidência do IPEA. “Eu sou a terceira mulher nomeada como presidenta desde o início da instituição, que completa, agora, 60 anos, e a primeira mulher negra na história do IPEA que assumiu a presidência”, disse.
Um dos temas que ela abordou em sua palestra foi a economia feminista. “A economia feminista começa a se definir a partir do momento em que um grupo de mulheres pesquisadoras da sociologia, da própria economia e de outros campos do conhecimento, mas principalmente as economistas, começam a questionar o uso do conceito do ‘homo economicus’, que é uma base da economia, como o preceito de uma economia masculina de produção”, disse.
Vários economistas, desde o século passado, começaram a questionar essa visão de que você tem um mercado de trabalho único, uma organização única, que atende tanto homens quanto mulheres, e começam a questionar essa economia tradicional e buscar uma perspectiva primeiro de gênero para dentro da economia e depois uma perspectiva feminista, que coloque a mulher como protagonista dentro da economia política, dentro da produção e dentro da formação econômica.
“E aí você tem vários ramos, diferenças, e a economia feminista mais reconhecida hoje, no Brasil, é aquela que está trabalhando mais vinculada à economia política, à discussão da participação da mulher, ao empoderamento, mas você tem toda uma outra área de economia de gênero que vai fazer a discussão dos papéis de gênero no sistema produtivo, nas famílias, nos estados e governos, a importância de você entender bem as normas sociais, os padrões sociais como determinantes dessa participação da mulher”, explicou.
Ela também falou sobre as mulheres laureadas pelo Nobel, que foram somente três na história, com a primeira apenas em 2009 e a última em 2023, sendo que as duas primeiras dividiram prêmios com homens. “Você tem importantes mulheres na economia que demoram a ser reconhecidas como precursoras da economia. A economia nasce como se os pais da economia fossem todos homens, então essa é uma discussão que vai ganhando força junto com o movimento da discussão das aberturas da economia para discussões sobre justiça social e outras discussões, mas também do próprio movimento feminista dos anos 60 e 70, que começa a questionar todas as ciências”, destacou.
Luciana explicou como essa ocupação de espaços ocorre dentro do IPEA. “O quadro do IPEA é eminentemente masculino e branco, e por quê? Porque a formação e a graduação na economia, durante anos e décadas, é uma formação, é um campo de homens, um campo masculinizado, são poucas as mulheres. Não tanto como a engenharia, mas, nas ciências sociais, é a área da ciência com maior participação de homens. A gente começou um debate sobre o papel das mulheres do instituto nessa formação, trouxemos mais mulheres para a diretoria, para coordenações gerais e estamos discutindo o que faz diferença essa representatividade”, afirmou.
Ela destacou a importância de participar de eventos, como o realizado na PUC-Campinas, para falar sobre o tema. “Isso também faz diferença. Quando você vem fazer uma fala, você sabe: ‘olha, tem uma mulher presidente de uma instituição de pesquisa econômica’. É importante dar essa visibilidade”, disse.
A Secretária Municipal de Cultura e Turismo Alexandra Caprioli também citou a motivação de dar visibilidade às mulheres que ocupam postos de destaque. Ela é formada pela PUC-Campinas e também foi professora da instituição por 15 anos.
“Eu acho que a gente tem essa responsabilidade de propagar a importância de ter mulheres fomentando mulheres. Porque, quanto mais mulheres a gente tiver ocupando posições de importância, conseguimos ganhar escala e voz. A gente precisa sempre falar essa bandeira”, destacou.
Alessandra lembrou que a mulher deve atuar com destaque em todos os universos, como na atividade econômica, na ciência, na gestão pública e em cargos de decisão que tem maior visibilidade.
“A mulher pode estar onde ela quiser e as mulheres precisam atrair outras mulheres para essas pautas. Eu participei muito de conselho de administração e, muitas vezes, eu era a única mulher. Então, tanto no setor privado quanto no setor público, a gente tem que percorrer um grande caminho para poder atingir esses espaços”, disse.