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PUC-Campinas e TRT-15 discutem a criação de curso voltado para empresas sobre relações étnico-raciais no trabalho

Expectativa é que a parceria seja firmada até o próximo dia 23, aniversário de um ano do CEAAB

A criação de um curso voltado para as empresas sobre relações étnico-raciais no mercado de trabalho foi o tema de uma reunião realizada na última terça-feira, dia 30 de julho, na Reitoria da PUC-Campinas, entre representantes da Instituição e do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15), onde foi discutida a possibilidade de assinatura de um acordo de cooperação a tempo da celebração de um ano do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Dra. Nicéa Quintino Amauro (CEAAB), que acontece no próximo dia 23 de agosto.

A criação de um curso voltado para as empresas sobre relações étnico-raciais no mercado de trabalho foi o tema da reunião realizada entre representantes da PUC-Campinas e do TRT-15.

O encontro contou com a presença do Reitor da Universidade, Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior, e do Vice-Reitor, Prof. Dr. Pe. José Benedito de Almeida David; do presidente do TRT-15, desembargador Dr. Samuel Hugo Lima; do diretor da Escola Judicial do TRT-15 (Ejud-15), desembargador Dr. Carlos Alberto Bosco; da Pró-Reitora de Graduação, Profa. Dra. Cyntia Belgini Andretta; da responsável pelo CEAAB, Profa. Dra. Waleska Miguel Batista; da presidente da Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac), Comendadora Edna Almeida Lourenço; do coordenador do Centro de Cultura e Arte (CCA) e do Centro de Atenção à Comunidade Interna (CACI), Prof. Me. José Donizeti Souza; da Diretora da Faculdade de Pedagogia, Profa. Dra. Eliete Aparecida de Godoy; e do presidente do Conselho Deliberativo da Associação Atlética Ponte Preta e presidente regional da União de Negros pela Igualdade (Unegro), o advogado Dr. Tagino Alves dos Santos.

Reconhecendo o racismo
De acordo com a Comendadora Edna, a ideia de fornecer às empresas uma formação em relações étnico-raciais no mercado de trabalho surgiu ainda na gestão do desembargador Lorival Ferreira dos Santos à frente do TRT-15, entre 2014 e 2016. “Por ser negro, ele já sentia a necessidade de discutir, nas empresas, o combate ao racismo e chegou a organizar uma grande ação para que elas contratassem mais trabalhadores negros e dessem condições dignas de trabalho a eles”, lembra.

No entanto, ela diz ainda que a ideia ficou por muito tempo em aberto no Tribunal, até que o atual desembargador, Samuel Hugo Lima, trouxesse à tona a necessidade dessa formação em questões trabalhistas, uma vez que, em muitos casos, há certa dificuldade no reconhecimento da existência de uma conduta racista por parte de um empregador.

Montagem do curso
Sobre a montagem do curso, Edna explica que “o processo de concepção das aulas ainda está em andamento e a reunião foi o primeiro passo no sentido de firmarmos um acordo para a sua aplicação. Ainda não foi decidido um local para as atividades, mas o professor Germano propôs ao Diretor da Faculdade de Direito da PUC-Campinas, o Prof. Me. Francisco Vicente Rossi, que já tem expertise na montagem de cursos do gênero, que ele desenvolva, ao lado da professora Waleska, o conteúdo programático das aulas”.

O presidente do TRT-15, desembargador Dr. Samuel Hugo Lima (à direita), e o diretor da Escola Judicial do TRT-15 (Ejud-15), desembargador Dr. Carlos Alberto Bosco, foram os representantes do Tribunal em reunião ocorrida na Reitoria da PUC-Campinas.

A ideia é que a primeira turma seja montada já no segundo semestre deste ano e que novas classes aconteçam a partir do início do ano que vem, após o fim do mandato do atual desembargador, em dezembro deste ano. “Por isso, nós pretendemos assinar um acordo de cooperação, para que essa ideia seja posta em prática independentemente da gestão que se apresente posteriormente”, ressalta a Comendadora.

Igualdade racial
Ela diz ainda ter saído do encontro “muito feliz”, por conta de “eles (representantes do TRT-15) terem reconhecido a necessidade desse diálogo (sobre racismo), inclusive com a valorização do negro em cargos de liderança”, e complementa dizendo que “de acordo com um estudo realizado pelo Instituto Identidades do Brasil (organização sem fins lucrativos comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial), o cenário do mercado de trabalho no país só deve se tornar igualitário por volta de 2190, ou seja, daqui a 166 anos, então, o que nós estamos fazendo é dando um passo adiante, a fim de acelerar esse processo de igualdade, e eu tenho plena certeza de que nós teremos sucesso nisso”.

Edna encerra dizendo que o maior de todos os problemas é a não realização de denúncias de racismo quando cometidas pelo empregador, em especial, por conta do receio que o empregado tem de perder a sua fonte de renda em um mercado de trabalho já bastante conturbado por crises econômicas recorrentes, ocorridas nas últimas décadas. “E tudo isso gera vários problemas de saúde mental e que se tornam físicos, pois o seu organismo vai somatizando tudo isso, e é aí que aparece a hipertensão, a diabetes e tudo o mais, pois esse tipo de situação mexe demais com a pessoa que passa por ela, pois causa sofrimento”, lamenta.

Acordos assinados
Além das tratativas com o TRT-15, outros acordos, como com o Instituto Cultural Babá Toloji, que possui o maior acervo de obras de arte de origem africana da América Latina, e com a Casa de Cultura Fazenda Roseira, que oferece atividades culturais e educativas que trazem como eixos a cultura, a história, a mitologia e o meio ambiente sob uma perspectiva afro-brasileira, já foram sacramentados a tempo da celebração de um ano do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Dra. Nicéa Quintino Amauro (CEAAB) da PUC-Campinas.



Daniel Bertagnoli
2 de agosto de 2024