Semana da Dança acontece entre 26 e 29 de agosto com a execução de mostra e oficinas
Projeto realizado pelo CCA terá como encerramento o espetáculo “Aves Sapiens dos Mangues”
A “Semana da Dança”, evento que chega a sua terceira edição e acontece entre hoje, dia 26, e quinta, dia 29, em ambos os campi da PUC-Campinas, apresentará uma mostra criativa dos integrantes do Núcleo Artístico Experimental de Dança (NAE Dança), vinculado ao Centro de Cultura e Arte (CCA), e duas oficinas, sendo uma de danças afro-brasileiras e outra de dança contemporânea.
Com entrada gratuita e emissão de declaração para fins acadêmicos, a programação contará ainda, em seu encerramento, com a exibição do espetáculo “Aves Sapiens dos Mangues”, monólogo cênico interpretado pela multiartista Nil Sena.
O intuito das atividades é o de proporcionar novas formas e caminhos para pensar e manifestar a dança, buscando um espaço de encontro e descobertas na vida universitária, a fim de contribuir com o aumento de repertório cinético (provocador), sensível e reflexivo de toda a comunidade acadêmica.
Oficinas
O primeiro evento da semana será a “Oficina de Danças Afro-Brasileiras”, que acontece hoje, dia 26, das 17h às 19h, no Salão Ambiental, localizado no Bloco C da Escola de Ciências Humanas, Jurídicas e Sociais (ECHJS), no Campus I, com o grupo Danças Afro-Brasileiras Campinas, composto pelas dançarinas Adnã Ionara, coreógrafa do NAE Dança e idealizadora do projeto, e Renata de Oliveira e pelos percussionistas Otávio Andrade e Yandara Pimentel, que ministra cursos regulares, oficinas e vivências para instituições públicas e privadas em todo o interior paulista, alcançando variados públicos e espaços.
Há mais de dez anos, o grupo se dedica à pesquisa das linguagens das danças afro-brasileiras (danças populares, dança afro e danças dos orixás) sempre em diálogo com a atualidade, em que os corpos contemporâneos fazem uma ponte com a danças de matriz africana e remetem a uma ancestralidade afrodiaspórica.
Adnã explica que o objetivo de promover esta oficina é o de fomentar e potencializar caminhos e possibilidades para que as pessoas possam entender a dança para além dos modos hegemônicos de pensar e enxergar a arte, uma vez que, segundo ela, “há muitos outros caminhos e possibilidades para se fazer dança, em especial, através de sabenças, princípios, estéticas, conceitos e possibilidades encontradas naquelas danças que são consideradas belas e aprazíveis, mas que, em grande parte do tempo, são distorcidas por estereótipos exoticistas”.
“Além disso, promover espaços, pensares e fazeres em relação à dança e dar mais atenção à pluralidade de corpos é fomentar e fortalecer possibilidades de combate ao racismo que, estruturalmente falando, persiste, em termos sociais, em todos os lugares”, explica a dançarina.
Ela elucida ainda que a dança, quando oriunda e encarnada numa perspectiva de terreiro, se assenta em uma relação mutualística com a voz, seja ela corporal ou percussiva-instrumental, só existindo porque “se faz viva com a voz, seja ela o canto ou a palavra, e com a percussão dos tambores e instrumentos de clave. Os três, quando apurados, aliam-se enquanto perpetuação e sentido da ancestralidade. Dessa forma, a oficina nasce da tentativa de promover aos participantes o estímulo da consciência corporal no contexto das danças afrodiaspóricas, como mencionado anteriormente, sob a perspectiva das sabenças de terreiro, fazendo com que aquele que dança descubra mais maneiras corporais de se expressar e de se reconectar consigo e com o outro na relação corpo, espaço e tempo”, elucida Adnã.
Posteriormente, será a vez da “Oficina de Dança Contemporânea”, com a dançarina e arte-educadora Iara Medeiros, amanhã, dia 27, das 17h às 19h, na Sala B42 do Bloco B da Escola de Ciências da Vida (ECV), no Campus II. A atividade tem o intuito de acessar as potências pessoais de cada corpo através da dança, da expansão da sensibilidade, da confiança no movimento, da expressividade, da percepção, da mobilidade e da autonomia de cada um por meio da aplicação de técnicas de dança contemporânea, de trabalho de chão e de improvisação em dança.
“A proposta do NAE Dança é a de acolher pessoas com diversas experiências de dança e fazê-las entender que dançar pode ser uma possibilidade de conhecer a si próprio e ao mundo. A Iara, por sua vez, é uma referência na dança por ter muito conhecimento e experiência no que faz e as pessoas que se interessam pela arte acabam tendo-a como suporte para poderem alcançar as muitas possibilidades do fazer próprio”, exalta Adnã.
Mostra Criativa
A “Mostra Criativa”, que acontece na quarta, dia 28, na Sala 803 do prédio H01 da Escola de Linguagem e Comunicação (ELC), no Campus I, é a terceira das quatro atrações. Composta por integrantes do Núcleo Artístico Experimental de Dança do CCA, os seus integrantes compartilham as suas criações cênicas em formato livre, que variam entre solos, duos e grupos.
“A Mostra acontece anualmente, durante a Semana da Dança, e é um despontar dos próprios integrantes para o exercício de sua autonomia e do pensar em fazer dança por si mesmos, com a elaboração de criações autorais, onde eles não contam, necessariamente, com um tema que os direciona, podendo dançar a partir das estéticas e das técnicas que fazem parte de suas histórias, do que eles gostam e do que têm vontade de compartilhar consigo e com as outras pessoas”, esclarece a coreógrafa.
Ela explana ainda que durante a Mostra, o destaque fica por conta da pluralidade de corpos, pensamentos, estéticas, dinâmicas e pessoas que compõem o Núcleo Artístico Experimental de Dança, “pois estes podem vir a ser uma ferramenta de sensibilização e de alcance para que muitas pessoas também queiram integrá-lo. Para os membros atuais, por sua vez, é uma possibilidade de se sentirem mais confiantes, mais seguros, mais autônomos dos seus fazeres e de se expressarem livremente, respeitando os princípios e conceitos estabelecidos pelo próprio NAE e pela Universidade”.
Aves Sapiens dos Mangues
Por fim, acontece o espetáculo “Aves Sapiens dos Mangues”, com a multiartista Nil Sena, na quinta, dia 29, às 19h30, no Auditório do Campus I. Traçando um paralelo entre as aves e os seres humanos que tiram o seu sustento dos mangues, o monólogo cênico parte da dramaturgia griô (baseada na tradição dos contadores de história de matriz africana) e, pelos caminhos da memória oral, Nil, que é ex-aluna da Faculdade de Pedagogia da PUC-Campinas, conduz corpo, música, poesia e gritos por uma sociedade mais equitativa, em que o corpo preto não seja mais um objeto de escárnio.
Adnã lembra que um dos eventos da “Semana da Dança” é sempre realizado por um profissional da área. Nil Sena, que já foi integrante do NAE entre 2022 e 2023, é uma griote de extrema influência, não só na cena campineira, mas nacional, sendo uma referência na área do corpo, da música, da arte, da literatura, da poesia, da ação e da expressão da manifestação humana e artística brasileira no geral.
“’Aves Sapiens dos Mangues’ busca estimular e potencializar a poética política, de pensar mais caminhos e possibilidades para fazer arte e o quanto isso pode refletir nas pessoas que vão contemplar e consumir esse trabalho, ao fomentar ações, não só de combate ao racismo, mas também de acolher a pluralidade de pessoas e pensares, inclusive dentro da própria Universidade”, explica a idealizadora da “Semana da Dança”.
Ela encerra dizendo que o evento como um todo busca servir como “um meio de aprendizagem prazeroso para o desenvolvimento da consciência do movimento, podendo contribuir para a estruturação da personalidade e da socialização ao permitir que o indivíduo conheça a si mesmo e a sociedade da qual faz parte. Para além disso, ele pode instigar o poder de difusão da dança e a participação da comunidade universitária como protagonista ao encarar esta arte como uma possível potencializadora dos processos de autonomia e de consciência corporal e como possibilidade de comunicação e expressão do ser/estar no mundo”.