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Atletas Kétyla e Kesley Teodoro chegam a Paris para a disputa dos Jogos Paralímpicos 2024

Os dois estiveram na PUC-Campinas para falar sobre o valor do esporte educacional inclusivo

Os irmãos Kétyla e Kesley Teodoro, paratletas dos 400m. e 100m. rasos, respectivamente, ambos possuidores da doença de Stargardt, uma enfermidade genética que afeta a retina, e o também corredor e atleta-guia de Kétyla, Rodrigo Chieregatto, todos classificados para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024, que começa nesta quarta-feira, dia 28 de agosto, já estão na Cidade Luz para as disputas em suas modalidades. Kesley competirá nesta sexta-feira, dia 30 de agosto, e Kétyla na próxima segunda-feira, dia 2 de setembro.

No último dia 2 de agosto, o trio participou do encerramento do Curso de Esporte Educacional Inclusivo, que aconteceu na Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas e foi promovido pela Associação Paraolímpica de Campinas (APC) em parceria com a Universidade e com a Prefeitura de Campinas e com o apoio da Fundação FEAC.

Durante a atividade, os três falaram sobre o valor do tema e a importância de discutir e aprender mais sobre ele, sobre a relação de cada um deles com a APC e como projetos como esse podem ajudar na conquista e consolidação de uma carreira no esporte, bem como sobre as perspectivas para os Jogos Paralímpicos desse ano, que serão realizados em Paris, na França.

O curso, que fez parte do chamado Projeto Esporte Social (PES), da APC, que visa trabalhar o esporte sob uma perspectiva social, teve a participação de trinta estudantes das mais diversas faculdades da PUC-Campinas, como Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e outras mais.

De acordo com a diretora da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas, a Profa. Dra. Giovanna Regina Saroa, o PES irá funcionar nas regiões Sul e Sudeste de Campinas e inúmeros professores, ex-formandos e ex-estagiários da Universidade foram convidados para atuar diretamente no Projeto.

“Estamos indo para o terceiro ano dessa parceria com a APC e com a Associação de Esportes Adaptados de Campinas (Adeacamp). Os atletas vinculados a essas duas entidades treinam usando a estrutura da Universidade e os nossos alunos e alunas, dos mais variados cursos, participam desse processo através do projeto de integralização, que nada mais é que dispor de alunos de várias faculdades, cada um auxiliando esses atletas em suas respectivas áreas, para que eles tenham tudo aquilo que lhes é necessário para que se desenvolvam ao máximo, e o estudante, por sua vez, adquire um grande aprendizado em seu campo de atuação ao trabalhar com o esporte. O projeto tem gerado muitos frutos”, celebra Giovanna.

Ela diz ainda que o “esporte salva e transforma” e que o objetivo do programa nada mais é do que “fortalecer aquilo no qual a gente acredita, ou seja, colocar as pessoas em estado de vulnerabilidade social no meio esportivo e fazê-las entender que elas são parte da sociedade. É mais um projeto social riquíssimo no qual a gente está dando um pontapé inicial para transformar vidas. E ele não é só voltado a pessoas com deficiência, mas a todas as pessoas”.

Segundo Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, professor que ministrou o curso e é gerente de projetos da Associação Paraolímpica de Campinas e coordenador do Projeto Esporte Social, o que este busca, na verdade, é garantir o direito constitucional à prática esportiva. Ele diz esperar que o programa “sensibilize as pessoas e traga esse olhar ainda mais forte sobre a necessidade e a possibilidade de atender a todos e todas, com ou sem deficiência, sobretudo aqueles e aquelas que se encontram em um estado de maior vulnerabilidade social, pois o esporte é, sem dúvida, uma grande ferramenta social”.

Sobre o curso
O Curso de Esporte Educacional Inclusivo desenvolvido pela APC buscou apresentar metodologias de ensino, estratégias pedagógicas e uma área bastante específica de controle e monitoramento, que, segundo o coordenador do PES, é uma “parte extremamente importante do projeto também”.

A procura foi tão grande que foi preciso a realização de um processo seletivo para que alguns dos interessados pudessem assistir às aulas, uma vez que 65 pessoas se apresentaram para fazê-lo e o número total de vagas era de trinta.

Ele diz ainda que a ministração das aulas só foi possível em virtude da assinatura de um termo de cooperação técnica entre a PUC-Campinas e a APC que estipula a cessão de espaços e a transferência de metodologia entre as duas instituições e que, por isso mesmo, “a gente tem atraído vários eventos para a Universidade, incluindo cursos de formação, com a participação dos alunos e professores da casa”.

Sobre a Fundação FEAC, o professor comenta que a entidade é fundamental no desenvolvimento do programa como um todo, porque ela é a financiadora, mas que, para além disso, ela é também uma grande apoiadora do desenvolvimento social do município de Campinas.

Luiz Marcelo diz ainda que a APC teve “essa grata surpresa de poder ser selecionada para implantar esse projeto com o financiamento da FEAC. A Prefeitura (de Campinas), por sua vez, entra como parceira com a cessão de espaço para o desenvolvimento de dois núcleos de atendimento do PES, sendo um no São Bernardo e o outro no DIC 6, e o Curso de Esporte Educacional Inclusivo foi uma das primeiras ações do projeto e um dos primeiros passos para a constituição de uma rede de apoio que estamos tentando construir, onde o mote é trazer à tona uma metodologia inclusiva que apresenta o esporte como uma ferramenta real de educação”.

Vivência com paratletas
No último dia de aula do curso, houve uma vivência com três atletas de alta performance vinculados à APC e que disputarão as Paralimpíadas deste ano, em Paris, na França: os irmãos paratletas Kétyla e Kesley Teodoro, que competem nos 400m. e 100m. rasos, respectivamente, ambos possuidores da doença de Stargardt, uma enfermidade genética que afeta a retina, e o também corredor e atleta-guia de Kétyla, Rodrigo Chieregatto, que falaram de sua experiência em projetos sociais, bem como sobre o seu desenvolvimento esportivo.

“O Rodrigo também falou sobre o dia a dia do trabalho técnico com pessoas com deficiência visual e como é a função de um atleta-guia em uma competição tão importante como os Jogos Paralímpicos”, explica Luiz Marcelo.

Estrutura de treinamento
Kétyla e Kesley são naturais de Rondônia e vieram para São Paulo em busca de melhores condições de treinamento. Foi onde eles encontraram a APC, que, na atualidade, exerce as suas atividades em três ambientes distintos. Além das instalações da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas, a entidade também se utiliza do Centro Esportivo de Alto Rendimento da Prefeitura de Campinas, localizado na região do Swiss Park, e do SESI Santos Dumont, onde os atletas são trabalhados desde a formação até o alto rendimento.

“Alguns atletas de altíssimo rendimento, como é o caso dos três, treinam em São Paulo, no Centro de Treinamento Paralímpico, por fazerem parte da seleção brasileira permanente e por precisarem estar lá por conta dos equipamentos e das próprias obrigações que eles têm com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), porém, eles são vinculados à nossa associação (a APC) e também têm uma rotina de obrigações de presença em uma série de situações aqui conosco, no cotidiano da entidade”, comenta o professor.

Importância do tema
Há doze anos, Kétyla, que compete na classe T12, voltada para atletas de baixa visão agravada, iniciou a sua trajetória no esporte. Ela ressalta que o esporte educacional inclusivo foi o que a levou ao esporte de alto rendimento e que o tema é importante e deve ser discutido, em especial, pelas oportunidades que podem ser geradas a muitas crianças.

“Esse evento é maravilhoso, porque ele apresenta realmente o esporte aos profissionais que irão trabalhar com atletas com algum tipo de deficiência. Realizar uma vivência com os alunos e alunas, demonstrando na prática o que eu faço, é o mais gostoso. Claro que essa demonstração não se dá com a mesma intensidade de um treinamento tradicional, porque, logo, eu estarei em Paris para competir, mas é mais para que os estudantes tenham uma ideia de como é o nosso cotidiano de trabalho”, elucida a paratleta.

Ela, que representa a APC há cinco anos, diz trabalhar bastante para que esse projeto realmente cresça e abrace cada vez mais atletas, uma vez que existem muitos deles ainda passando pelas fases de iniciação e formação na base da instituição.

Kesley, por sua vez, acredita no esporte como uma ferramenta transformadora que mudou toda a sua perspectiva de vida e de futuro, bem como a de sua família. “Hoje eu respiro, eu vivo o esporte, e participar de eventos como esse, que buscam profissionalizar pessoas que estão vivendo essa realidade do esporte adaptado e da inclusão social e falar sobre o esporte de alto rendimento, é algo incrível”.

“Nesse período de cinco anos representando a APC, nós participamos das Paralimpíadas e de dois Mundiais e tudo isso começou na base e, agora, eu vou chegar em Paris com o melhor resultado da minha vida, tentando alcançar algo com o qual eu sempre sonhei, que é a medalha de ouro”, emociona-se Kesley.

No entanto, algumas dificuldades se apresentam. No caso das provas de velocidade masculinas, em especial dos 100m. rasos, categoria na qual Kesley compete, a dificuldade de arranjar um atleta-guia, tal qual a sua irmã, é muito mais difícil, em virtude dos tempos alcançados pelos homens. O paratleta explica que, nesse caso, seria necessário que atletas olímpicos se dispusessem a realizar essa missão, o que é muito raro de acontecer e, por esse motivo, ele diz correr sem um atleta-guia, ainda que, segundo ele, conviva e possa contar com os guias a todo momento.

“Eu corro na categoria T12, em que é opcional ter ou não um guia, mas ainda existem as categorias T11, em que a deficiência visual é completa e não há como correr sem um guia, e a T13, em que todos são obrigados a correr sozinhos e em apenas uma raia. De qualquer modo, é primordial estar próximo a eles, uma vez que eles estão ali falando, mostrando, ilustrando, de diversas formas, como fazer os exercícios corretamente, como realizar as saídas de bloco de partida, como correr tiros longos e curtos e por aí vai, então, a vivência com o atleta-guia é constante, independentemente de se eu vou correr ao lado dele na corda ou não”.

Rodrigo, que é o atleta-guia de Kétyla há sete anos, explica que o esporte é uma ferramenta e que a propagação do esporte educacional inclusivo acaba por atingir positivamente as pessoas com deficiência nas extremidades sociais ou que não contam com amparo governamental e que “quando isso acontece, elas podem encontrar associações que trabalham com o tema e, através delas, é muito mais fácil incluir, quem quer que seja, no meio social”, explica.

Ele continua dizendo que “para mim é sempre uma honra poder propagar o esporte paralímpico. Eu estou no ramo há treze anos, desde os meus dezessete anos de idade, então, toda vez que a gente tem um espaço de fala para trazer um pouco da bagagem que nós temos em relação ao esporte e de como funciona essa relação com a pessoa com deficiência, essa aproximação entre associação e pessoa, atleta e auxiliar, isso é sempre muito importante. É muito bom a gente fomentar e passar um pouco da nossa experiência, para que estes estudantes e futuros profissionais se deparem com as mais variadas situações e tenham versatilidade para sair delas e agregar cada vez mais ao meio social”.

Sobre a sua relação com a APC, Rodrigo diz ser ótimo fazer parte de uma associação que luta pelos direitos das pessoas com deficiência e que “nos fornece a infraestrutura necessária para que a gente possa se desenvolver ao máximo, com um pouco mais de tranquilidade, em busca dos resultados que almejamos e nos quais estamos focados”.

Em relação aos Jogos Paralímpicos deste ano, o atleta-guia comenta esperar um ótimo resultado e que a participação no torneio possa fomentar cada vez mais nas pessoas a prática de atividades físicas e que elas possam visualizar o esporte não somente como uma ferramenta de saúde, mas também psicossocial.

Guia para o sucesso
Especificamente sobre a parceria com Kétyla, Rodrigo diz se disponibilizar a tentar fazer com que os sonhos dela se tornem realidade e, diante disso, ele diz “abraçar a causa”, sempre buscando extrair dela os melhores resultados. “Eu sempre digo que a Kétyla é a minha força e eu sou os olhos dela, então essa relação nos deixa muito mais próximos e a gente consegue se ajudar nessa busca pelos seus sonhos. Ao final, basicamente, o que eu faço é auxiliá-la para que ela encontre esse caminho e eu vou colorindo-o da minha forma”.

Em janeiro do ano que vem, eles completarão sete anos de parceria profissional em “plena confiança”, corrobora Kétyla. “Eu tenho que acreditar no que ele me fala e ele também tem que entender o que eu digo. Durante a prova dos 400m., ele vai me falando sobre o que está acontecendo a fim de me situar. É uma parceria mesmo. Eu digo que hoje nós somos uma família e é assim que estamos caminhando rumo ao pódio. Já temos medalhas de Mundial e de Panamericano, só falta a medalha paralímpica, e nós trabalharemos muito para que ela venha”, finaliza.



Daniel Bertagnoli
27 de agosto de 2024