Atletas de rúgbi em cadeira de rodas são examinados por alunos da Faculdade de Nutrição
Avaliação de gastos calóricos foi realizada no Laboratório de Eletroterapia, no Campus II
Cinco atletas da equipe de rúgbi em cadeira de rodas da Associação dos Esportes Adaptados de Campinas (ADEACAMP), terceira colocada no Campeonato Brasileiro da modalidade deste ano, passaram, no dia 9 de outubro, por uma avaliação de seus gastos calóricos no Laboratório de Eletroterapia, localizado no prédio da Faculdade de Fisioterapia da PUC-Campinas, no Campus II da Universidade. Outros seis paratletas passarão pelo mesmo procedimento neste mês de novembro.
Os estudantes da Faculdade de Nutrição procederam com o exame de calorimetria indireta, que dura cerca de vinte minutos e é uma forma de medir a taxa metabólica basal (TMB) de uma pessoa, ou seja, a quantidade de calorias que o organismo gasta em repouso.
Para tal, eles contaram com o auxílio de um equipamento chamado “calorímetro”, que é usado para estudar a troca de calor entre diferentes materiais e para medir o calor envolvido em mudanças de estado de um sistema. Essas mudanças podem ser de fase, temperatura, pressão, volume, composição química ou qualquer outra propriedade relacionada com trocas de calor. O calorímetro pertencente à PUC-Campinas é de “padrão ouro”, ou seja, que emite uma precisão maior nos resultados da avaliação do gasto calórico basal.
De acordo com a Profa. Dra. Elisa de Almeida Jackix, que supervisionou a ação, o exame realizado serve, por exemplo, para a realização do planejamento de uma dieta, que é uma atribuição específica de um nutricionista. Ela diz ainda que, durante o evento, os atletas receberam informações sobre como melhorar o consumo alimentar.
“Ao chegarem no laboratório, os atletas foram questionados sobre o seu consumo alimentar do dia anterior. É o que chamamos de recordatório 24 horas. Com esses dados e o resultado dos exames de cada um, é possível realizarmos um cálculo para saber se esse consumo está adequado ou não, de acordo com o gasto calórico de cada atleta. Os estudantes também os questionaram sobre a frequência no consumo de certos alimentos, como café, bebidas alcoólicas, doces e afins”, explica a professora Elisa.
Ela diz ainda que a taxa metabólica basal serve como referência para a hora que os atletas começam a praticar o esporte, pois “70% do nosso gasto calórico é composto por quanto a gente gasta no basal, ou seja, no repouso. É a maior parte. O restante é o gasto energético no exercício físico e nas atividades diárias, então esse resultado torna-se um dado bastante importante para quando for preciso realizar o cálculo da dieta, ainda que, posteriormente, para que o trabalho seja finalizado, seja necessário saber de quanto é o gasto durante a realização do exercício físico também”.
Para os estudantes, Elisa comenta que o objetivo é que eles tenham contato com atletas e consigam descobrir se o gasto calórico que é estimado através das fórmulas é igual ao gasto calórico real que é obtido pelo calorímetro. “Então, esse é o grande objetivo, além de, lógico, avaliar o consumo alimentar. Essa é uma atividade que, para o aluno, é muito interessante pelo contato com pessoas que têm uma necessidade nutricional diferente. É bastante desafiador lidar com atletas e ainda mais com paratletas, porque o tratamento a ser oferecido a eles é bastante específico e faltam dados na literatura. Então, as informações coletadas são bem valiosas porque podem servir como referência para trabalhos futuros”, salienta.
Parceria com a ADEACAMP
Sobre a parceria com a ADEACAMP, a professora Elisa comenta que está teve início no ano passado e que de lá para cá, os estudantes já realizaram com os atletas da entidade uma atividade de educação nutricional, orientando-os sobre o que é uma alimentação saudável, baseada em alimentos in natura, minimamente processados, “porque uma das coisas que a gente já tinha notado em conversas anteriores é o alto consumo de alimentos ultra processados e esse foi um ponto em que nós precisamos ficar atentos a fim de que eles melhorassem o seu desempenho físico e tivessem boa saúde”.
“Em um segundo momento, os alunos e alunas realizaram outra atividade de educação nutricional falando de pré-treino, intra-treino e pós-treino, que são orientações mais específicas do esporte”, completa a professora.
Experiência única
Segundo as alunas Maria Eduarda Vilachã e Giovana Aparecida Freitas, do 4º período do curso de Nutrição, a atividade foi importante por fazer com que ambas pudessem colocar em prática muito daquilo que foi aprendido em sala de aula.
“Eu pretendo trabalhar na área esportiva, então essa experiência para mim é única, porque o calorímetro é uma máquina bastante cara e que a maioria dos nutricionistas não consegue ter em seus consultórios, além disso, trabalhar com atletas profissionais, alguns deles pertencentes à seleção brasileira de rúgbi em cadeira de rodas, é muito enriquecedor”, comenta Maria Eduarda.
Giovana, que também cursa o 4º período do mesmo curso, por sua vez, explica que “a gente consegue se aproximar da verdadeira taxa metabólica basal por meio de algumas fórmulas ou por meio do gasto energético, mas o método mais eficiente é com o calorímetro, porque ele mede o volume de oxigênio que é inspirado e expirado”.
Maria Eduarda adiciona que “ter contato com atletas profissionais, que é algo que, provavelmente, nós só teríamos depois de formadas, é muito bom e trabalhar com um calorímetro padrão ouro, cuja utilização é o método mais preciso para se descobrir qual é a taxa metabólica basal de um indivíduo, é maravilhoso”.
Professores e equipamentos
De acordo com a nutricionista da ADEACAMP, Isabelle Batista, ter contato direto com os professores e equipamentos da PUC-Campinas facilita em muito o trabalho realizado pela entidade. Segundo ela, os resultados obtidos têm sido incríveis. “Dessa vez, vieram (para a realização do exame de calorimetria indireta) cerca de metade dos atletas, que foram divididos em duas turmas. No final de novembro virão os demais. Foi preciso marcar as datas com certa antecedência por conta da questão de eles precisarem se manter em jejum por entre oito e doze horas e da própria dificuldade de locomoção em si”.
Ela diz ainda que, em relação aos paratletas, é comum haver perda de massa não utilizada em virtude da condição física deles e que ainda é muito difícil de medir essa perda, por conta da falta de dados na literatura. Isabelle explica que “para a realização do plano alimentar de cada um deles, é preciso levar em conta uma série de fatores, incluindo as condições de jogo de cada paratleta. Hoje não existem fórmulas específicas para calcular a taxa metabólica basal deles, pois os estudos realizados até agora nunca levaram em conta o que acontece com atletas com necessidades especiais. Por isso é muito importante valorizar a nutrição no esporte, em especial para eles, e como isso faz diferença na performance de um atleta de alto rendimento”.
Informações fidedignas
Segundo Rafael Gouveia, treinador da equipe de rúgbi em cadeira de rodas da ADEACAMP, a realização do exame de calorimetria indireta foi a primeira avaliação ocorrida dentro do planejamento do ciclo de trabalho de 2025, que começou em outubro, e que faz parte da coleta de informações sobre os paratletas.
“A gente precisa de informações bastante fidedignas dos atletas para individualizar o treinamento e a realização da calorimetria indireta serve para que a nossa nutricionista consiga planejar o melhor cardápio para os atletas, para as suas necessidades, e como a gente agora está na fase de planejamento, as características de treino são diferentes das habituais, então o corpo deles tem um outro tipo de necessidade e é preciso saber o que eles têm de comer em termos de proteína, carboidrato, gorduras e afins, em especial para essa fase de treinos na qual a gente vai entrar agora, onde os atletas precisam aumentar a massa magra e não mais ter tanta velocidade. Isso muda as necessidades alimentares”, explica o treinador.
Formação e crescimento
Ele ressalta que “a melhor informação que se pode ter, a gente só consegue com parceiros como a PUC-Campinas e isso é importante para os estudantes. É um auxílio e tanto em sua formação, pois é muito difícil que em uma graduação os alunos tenham contato com atletas pertencentes à seleção brasileira e isso acontece aqui, sem contar que, no caso específico da parceria da Universidade com a ADEACAMP, os alunos passam a trabalhar melhor o seu feeling com o público portador de deficiência física. Eu mesmo, na minha graduação em Educação Física, tive essa oportunidade de ter contato com atletas e fez total diferença”.
Durante a atividade, cinco atletas com tetraplegia foram atendidos, porém, com diferentes níveis de lesão. “Quatro deles são tetraplégicos traumáticos, que sofreram algum tipo de acidente, com diferentes tipos de comprometimento, o que influencia no modo como essa pessoa com deficiência manipula os seus alimentos em casa ou no seu grau de autonomia e tudo isso tem de ser levado em conta”, lembra Rafael.
O treinador comenta que a ADEACAMP cresceu muito por conta da parceria com a PUC-Campinas, pois “ela nos abraçou bastante depois que a gente saiu da nossa última sede e essa relação foi sendo criada aos poucos e hoje nós temos acesso as quadras externa e interna, salão de dança, academia adaptada e outras áreas da Universidade, sem contar a presença dos estagiários de vários cursos, e nós estamos abertos para trabalhar e compartilhar conhecimentos com os professores da PUC-Campinas, afinal todos os nossos projetos estão sediados na Universidade, que é um dos poucos lugares em Campinas com estrutura adequada e estudantes capacitados para realizar este tipo de atendimento. A PUC-Campinas está na vanguarda no que se refere a atenção da pessoa com deficiência”.
Alimentação e ganho de produtividade
Victor Luís Costa é um dos atletas que realizaram o exame de calorimetria indireta. Além de estar na equipe de rúgbi em cadeira de rodas da ADEACAMP, ele também faz parte da seleção brasileira da modalidade. A causa da paralisia de Victor não foi resultado de um acidente, mas de uma infecção viral na medula.
Sobre as atividades realizadas com a equipe de rúgbi em cadeira de rodas na PUC-Campinas, ele diz achá-las muito importante para um atleta de alto rendimento e que, no caso do exame de calorimetria indireta, este torna possível o processo de ajuste alimentar.
“Para nós, a alimentação é mais que 50% do nosso ganho de produtividade dentro de quadra. Até bem pouco tempo, eu estava tendo uma imensa dificuldade de dormir e, com o acompanhamento de nossa nutricionista, eu fui conseguindo acertar a minha alimentação. Isso se deu após a elaboração de um plano adequado e meu corpo inteiro se modificou. Hoje eu tenho um descanso proveitoso e consigo mostrar isso em cada partida. Sou muito mais produtivo”, celebra o jogador.
Victor encerra dizendo que “fazer esse tipo de exame e obter parâmetros nos dá uma precisão maior para a realização desse ajuste alimentar, o que é de imensa importância para nós, atletas. A alimentação inadequada modifica todo o nosso sistema corporal. Até bem pouco tempo atrás, eu me sentia muito inchado, pesado e não conseguia dormir e, ao praticar o esporte em alto nível, você perde produtividade ao não ter a orientação adequada e o acompanhamento correto e quando isso acontece, como aqui na PUC-Campinas, a resposta que você tem para isso é absurda e eu, como atleta de seleção, preciso desse ajuste fino e de exames de qualidade para obter mais parâmetros para que a minha nutricionista possa me passar o plano de alimentação correto. Isso é de absoluta importância. Hoje eu estou na minha melhor condição, entre os melhores atletas do Brasil, graças a esse acompanhamento”.