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Políticos se apropriam da expressão “Fake News” para desqualificar denúncias

Debatedores de evento realizado na PUC-Campinas divergem sobre uso do termo por formadores de opinião.

Um dos temas mais preocupantes da atualidade, que tem influenciado eleições, incitado ódio e violência e até colocado a saúde pública em risco, as Fake News foram discutidas por especialistas em um debate realizado no Auditório Dom Agnelo Rossi, no Campus I da PUC-Campinas, na noite do dia 30 de abril. Entre as formas de combater esse mal digital, a mais polêmica é a proposta de não se usar mais o termo “Fake News” na imprensa e por formadores de opinião, pois ele tem sido apropriado por lideranças políticas para desqualificar denúncias.

Professores e estudantes, principalmente dos Cursos de História e Jornalismo, lotaram o auditório para acompanhar as apresentações dos jornalistas Ivan Paganotti, do “Vaza, Falsiane”, e Marco Túlio Rodrigues Pires, do Google News Lab, no evento “História, Jornalismo e Informação na era das Fake News“. O debate posterior às apresentações foi mediado pelos professores Gustavo Oliveira, da Faculdade de História, e Juliana Sangion, da Faculdade de Jornalismo.

Marco Túlio mostrou algumas das propostas do Google para combater as notícias falsas, entre elas o aprimoramento dos algoritmos da ferramenta de buscas para detectar esse tipo de material e indicar as fontes mais confiáveis. Também há trabalhos de educação digital, ensinando os usuários a detectarem as fontes não confiáveis, e trabalho junto a grandes meios de comunicação e produtores de conteúdo em geral.

Mas o que mais chamou a atenção foi a política do Google de não usar mais o termo “Fake News”, trocando por “conteúdos enganosos”, “fabricados” ou “manipulados”. “Lideranças políticas em todo o mundo se apoderaram do termo e usam para desqualificar denúncias ou quem quer questionar suas condutas. Por isso, achamos que não devemos reforçar mais o termo que está sendo mal utilizado”, disse Túlio.

Paganotti, pesquisador e criador do site e curso que ensina a detectar notícias falsas, discorda da tática e diz que não se deve desprezar um termo já consagrado. “Vocês estão aqui neste auditório porque o nome do evento traz o termo ‘Fake News’, que atrai a atenção do público. Podemos até discutir quando devemos ou não usar, mas não deixar de citá-lo”, afirmou.

Os debatedores, entretanto, concordam com o fato de o combate às notícias manipuladas ser uma tarefa que deve envolver várias frentes. Não basta os mecanismos de busca e as redes sociais mudarem seus algoritmos e políticas de acesso e relacionamento de usuários. É preciso também um processo de “alfabetização digital” por parte dos usuários e de investimentos em conteúdo de qualidade por parte dos meios de comunicação.



Marcelo Andriotti
2 de maio de 2019