Ferramenta eletrônica de reconhecimento pode auxiliar deficientes visuais
Projeto selecionado na 2ª Mostra de Inovação e Empreendedorismo da PUC-Campinas busca parcerias para desenvolver protótipo
Mesmo à distância, em virtude da suspensão das atividades presenciais da PUC-Campinas, decorrente da pandemia da Covid-19, um grupo de alunos do segundo ano do Curso de Mídias Digitais segue no desenvolvimento de um aplicativo de celular, denominado Ferramenta Eletrônica de Reconhecimento (FER), destinado ao auxílio de deficientes visuais. O próximo desafio do grupo é criar um protótipo da tecnologia.
O projeto foi selecionado na 2ª Mostra de Inovação e Empreendedorismo da PUC-Campinas, que ocorreu em outubro de 2019. A FER é uma tecnologia para descrição de produtos por áudio voltada para deficientes visuais e pessoas com dificuldades para ler, ou, ainda, para quem quer ganhar tempo ao fazer compras. “A ideia surgiu quando estávamos trabalhando com sustentabilidade e acessibilidade, ainda no primeiro semestre do curso”, conta Danielle Marcelino, uma das alunas à frente desse projeto. “Na época pensamos em criar uma tecnologia para atender às necessidades de pessoas com baixa visão, um público muito ativo no mercado. A FER busca, por exemplo, auxiliar um cliente com deficiência visual quando está fazendo compras em um supermercado, seja na locomoção e na identificação dos produtos, seja no reconhecimento de cédulas (na hora de pagar). E isso em um layout simples, o que facilita a experiência do usuário, características que encontramos nos concorrentes”, acrescentou.
Estudos preliminares feitos pela equipe do projeto identificaram empresas do setor de varejo – como supermercados e lojas -, interessadas em melhorar a experiência do seu cliente em seus estabelecimentos, como um mercado de entrada potencial para a tecnologia. Cabe ressaltar que, segundo dados do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vivem no Brasil atualmente 6,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, reforçando a importância social do projeto.
O aplicativo, que estará disponível para iOS e Android, poderá reconhecer e ler códigos de barras, QR Codes e cédulas de dinheiro. Informações, como nome do produto, marca, validade, tabela nutricional etc., são transformadas em áudio e reproduzidas pelo celular. “O projeto se destacou por conjugar relevância social a um conteúdo tecnológico com o qual temos grande afinidade no SiDi”, contou a designer Daniele Zandoná, responsável pela mentoria desse projeto. SiDi é uma empresa especializada no desenvolvimento de tecnologias para celulares. Ela é uma das parceiras do PUC-Empreende, uma iniciativa do Espaço Mescla, da PUC-Campinas, que busca desenvolver parcerias com empresas para fortalecer o diálogo entre a Universidade e o mercado.
De acordo com o professor Tomas Sniker, da área de empreendedorismo do Espaço Mescla, uma das formas de participação das empresas são as ações de mentoria. “São encontros presenciais ou virtuais dos alunos com profissionais da empresa para discutir e aprimorar os trabalhos apresentados. Mais do que finalizar o projeto ou solucionar todos os problemas, nosso objetivo é capacitar o aluno para empreender”, explica. “Nos primeiros encontros com os alunos buscamos levantar questões muito práticas, como, por exemplo, que estabelecimentos gostariam de ter um aplicativo como esse? Que soluções já existem para esse problema?”, contou Daniele Zandoná. A ideia é desenvolver nos alunos a habilidade de pensar de forma holística e, ao mesmo tempo, linear, porque empreender depende de uma série de etapas, segundo a mentora do projeto.
A próxima etapa do projeto de mentoria é buscar parcerias e recursos para desenvolver um protótipo do aplicativo. “Embora isso vá além dos objetivos do projeto, estamos tentando viabilizar um protótipo de alta fidelidade navegável (FDP), o que deve permitir simular algo bem próximo da tecnologia que o grupo idealizou”, afirma a mentora do projeto. De acordo com a aluna Danielle Marcelino, isso representa um grande desafio, porque a FER possui uma grande complexidade no desenvolvimento, e a equipe tem limitações. “Por exemplo, todos são do Curso de Mídias Digitais e para o projeto avançar precisamos agregar outras competências”, disse.
Uma proposta feita pela equipe da mentoria do SiDi, que, além de Daniele Zandoná, conta com o designer Pedro Henrique de Almeida, é fazer parcerias com projetos em outras expertises dentro da própria PUC, por exemplo, na área de programação e engenharia. “A mentoria com a SiDi tem agregado muito, tanto no valor do projeto quanto no desenvolvimento de todos da equipe. Tem sido uma excelente oportunidade de perceber que o projeto tem muito a amadurecer e que é um processo complexo, que envolve muitas etapas”, afirmou Danielle. “Como experiência pessoal, o projeto suscitou questionamentos importantes na minha vida, especialmente sobre meu papel como profissional da comunicação na inclusão social por meio das mídias digitais”, finalizou.
Por Patricia Mariuzzo