Falta de acesso à água amplia vulnerabilidade de comunidades pobres na pandemia
Parceiro na organização do II Sustentare da PUC-Campinas e V WIPIS, pesquisador em saneamento e sustentabilidade discute soluções para abastecimento
O acesso à água, recurso fundamental à sobrevivência humana e ao combate da proliferação do coronavírus, ainda não é realidade para todos os brasileiros. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 18,4 milhões de cidadãos não recebem água encanada diariamente, sobretudo os residentes em comunidades pobres. “Os riscos diante da pandemia são ampliados para tais populações”, diz o Dr. Tadeu Malheiros, especialista em saneamento e sustentabilidade e professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), parceira da PUC-Campinas na organização do II Sustentare (Seminário de Sustentabilidade) e V WIPIS (Workshop Internacional de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade), que serão realizados entre 17 e 19 de novembro.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a lavagem completa das mãos está entre as medidas mais eficazes para limitar a propagação da covid-19. Contudo, o levantamento feito pelo IBGE mostra que cerca de 6 milhões de domicílios não têm água à disposição todos os dias no país, realidade que se estende em outros lugares do mundo. A falta de sistemas adequados de abastecimento de água potável, aliada às demais condições das habitações e espaços coletivos, como a estrutura das moradias e a necessidade de deslocamento para trabalho, aumenta o risco de infecção por covid-19 dos moradores dessas localidades. “Esses determinantes de saúde colocam em risco os habitantes não só em relação ao coronavírus, mas também a várias outras doenças”, diz o especialista.
A desigualdade existente entre as comunidades ricas e pobres na perspectiva de acesso à água para consumo e higienização ameaça milhões de pessoas expostas às enfermidades e levanta discussões em torno das causas e consequências dos anos de investimentos adiados em saneamento. Essas questões, bem como outras relacionadas à gestão de recursos hídricos e aos indicadores de sustentabilidade, vão ser debatidas durante o evento científico II Sustentare e V Workshop Internacional de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade, oferecidos de forma gratuita e on-line.
Mas por que, afinal, ainda há limitação no acesso ao saneamento básico em algumas comunidades? Para Malheiros, o direito à terra é um dos fatores crônicos. O pesquisador avalia que várias regiões desabastecidas são situadas em áreas ocupadas irregularmente, nas quais os moradores não possuem o título da terra. Empresas de saneamento e governo argumentam não ter respaldo jurídico para investir em locais sem os devidos procedimentos para a regularização.
Atualmente, a recente legislação nacional referente à regularização fundiária e outros agentes de regulação, como o Ministério Público, têm colocado esforços para acelerar soluções para esse problema, entendendo que o direito à saúde – ou seja, à água limpa – deve ser priorizado.
Os esforços, no entanto, ainda são insuficientes para resolver o problema. Para o especialista, a criação de políticas integradas se faz necessária. Isso significa assegurar condições de habitação, educação, emprego e serviços de saúde em todas as regiões do país. “Inúmeras famílias trocam de cidade em busca desses serviços, que não são oferecidos com qualidade para o atendimento de suas necessidades. Muitas delas acabam ocupando áreas irregulares, sobretudo por carência de informações ou falta de oportunidades dignas”, pontua.
Outros pontos importantes, segundo Tadeu, se referem à necessidade de mudança cultural por parte das empresas e dos governos, e também de indicadores dessas comunidades. Ele destaca que as instituições precisam estar comprometidas para o atendimento dessas áreas, atualmente desprovidas de atenção e de dados que garantam uma compreensão de sua realidade. “Na falta de informação, ninguém sabe o que está acontecendo. Por essa razão, inclusive, tem sido difícil avaliar o impacto da covid-19 nessas comunidades. É preciso trabalhar melhor os sistemas de informação”, complementa.
II Seminário de Sustentabilidade e V Workshop Internacional de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade
O evento, que acontece nos dias 17, 18 e 19 de novembro, de forma on-line mediante inscrição, busca agrupar agentes e pesquisadores nacionais e estrangeiros para o compartilhamento de experiências e de referenciais teóricos ligados à sustentabilidade. O objetivo é unificar o conhecimento sob diferentes abordagens, como indicadores referentes à questão social, econômica e ambiental, considerados de fundamental importância ao estudo do tema, sobretudo quando acompanhados de aspectos políticos, culturais e tecnológicos.
“Convido todos a se inscrever, com ou sem apresentação de trabalho, de forma que participem desse diálogo da academia e da sociedade, no esforço coletivo para o desenvolvimento do país”, conclui Tadeu.
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