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Sustentabilidade é cada vez mais importante para fazer negócios

Cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar boas práticas de governança são fatores que impactam positivamente o balanço das empresas

Presente na agenda das empresas pelo menos desde os anos 2000, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Pacto Global, um convite para as organizações se alinharem a 10 princípios universais de responsabilidade social e ambiental, a sustentabilidade corporativa assiste a idas e vindas, com períodos de maior ou menor adesão. Após a crise financeira de 2008/2009, por exemplo, na ânsia de reconstruir a economia, muitas empresas deixaram as questões relacionadas à sustentabilidade em segundo plano. Hoje, no entanto, a despeito da desaceleração econômica provocada pela pandemia de covid-19, um número significativo de empresas se mantém engajada em projetos de responsabilidade ambiental. Mais do que isso, elas estão incorporando a ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança).

O termo ESG foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. “Geralmente a ESG é usada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa”, explica o professor, pesquisador e coordenador do Mestrado em Sustentabilidade da PUC-Campinas, Samuel Carvalho de Benedicto. Ainda de acordo com ele, o “E” (Environmental) envolve aquecimento global e emissão de carbono; poluição do ar e da água; biodiversidade; desmatamento; eficiência energética; gestão de resíduos; e escassez de água. O “S” (Social) tem a ver com satisfação dos clientes; proteção de dados e privacidade; diversidade da equipe; engajamento dos funcionários; relacionamento com a comunidade; e respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas. Já o “G” (Governance) se refere à composição do conselho da empresa; comitê de auditoria; conduta corporativa; remuneração dos executivos; relação com entidades do governo e políticos; e existência de um canal de denúncias.

Na verdade, a cultura ESG vai além da responsabilidade empresarial. “É uma filosofia que permite compreender se uma empresa está ou não buscando formas de minimizar seus impactos no meio ambiente, construir um mundo mais justo e de forma responsável para as pessoas em seu entorno e manter os melhores processos de administração”, afirma o professor Benedicto.

Crise econômica e ambiental

Para ele, a diferença na resposta das empresas às duas crises mencionadas no início deste texto deve-se à sua natureza. A crise de 2008/2009 foi causada pelo aumento nos valores imobiliários nos Estados Unidos (bolha imobiliária), que não foi acompanhado por um aumento de renda da população. Como a crise era mais ligada a uma questão financeira dos bancos e das famílias, a recuperação foi mais orientada para pacotes de incentivo ao sistema financeiro, aumentando o crédito para as pessoas e empresas. Já a crise provocada pela pandemia da covid-19 possui uma relação direta com o meio ambiente. “Pelo que sabemos com mais certeza até agora, o novo coronavírus migrou da natureza para o ser humano. Ou seja, de alguma forma a questão ambiental está envolvida no surgimento da covid-19, o que leva governo, empresas e sociedade a refletir sobre os modos corretos de o ser humano se relacionar com a biodiversidade. Hoje, há muitos estudos que apontam para consequências imprevisíveis quando essa relação harmoniosa homem-natureza é rompida”, lembrou Benedicto. “Enquanto no passado pensava-se que a dimensão econômica deveria prevalecer sobre as outras dimensões da sustentabilidade (como a social e a ambiental), hoje muitas empresas já se conscientizaram de que cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança são fatores que impactam positivamente o seu balanço”, complementou o pesquisador da PUC.

E isso terá impactos na atração de investimentos e na sobrevivência da empresa. De acordo com a empresa de consultoria canadense Corporate Knights, que organiza o 2021 Global 100, ranking das empresas sustentáveis do mundo, as organizações que participam dele recebem 41% de suas receitas de produtos ou serviços alinhados com os ODS. A sustentabilidade é um bom negócio e permite às empresas se destacar entre seus competidores.

No Brasil

Desde 2005, opera na Ibovespa o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), um dos primeiros criados no mundo. “Em nível nacional, existem dezenas de empresas que figuram nos rankings de corporações sustentáveis. Entretanto, quando se amplia para a esfera mundial, em que outros fatores são considerados, poucas empresas brasileiras são consideradas sustentáveis”, explica Benedicto. No ranking deste ano, os únicos representantes brasileiros foram o Banco do Brasil e a Natura. “Em minha opinião, no Brasil, a baixa adesão às práticas de ESG está relacionada ao aspecto cultural, o que implica pouca cobrança da sociedade. Mas há também outros fatores que contribuem para isso, tais como: a baixa fiscalização das autoridades e a ausência de políticas públicas voltadas para a ESG, algo que existe em vários países europeus e asiáticos”, disse.

A incorporação da cultura da ESG em uma empresa deve começar como uma ação estratégica da liderança. “É preciso mudar a cultura atual dos colaboradores para depois introduzir a cultura da ESG. Isso se faz mostrando que existem outras formas de ver e fazer as coisas e que é possível produzir melhores resultados. Em uma grande empresa, geralmente, é necessário ajustar o organograma para alocar uma pessoa especializada em sustentabilidade, a qual estará encarregada de implantar a cultura ESG”, aponta Samuel.

Olhos de águia

No cenário brasileiro, esse é justamente um dos desafios, a formação de recursos humanos. Ainda são poucas as Instituições de Ensino Superior (IES) que já incorporaram a sustentabilidade e a ESG em seus projetos pedagógicos. As que já realizaram as atualizações curriculares necessárias para oferecer ao mercado profissionais qualificados e preparados para atuar no campo da sustentabilidade e ESG são chamadas ‘olhos de águia’. “A formação desses profissionais envolve disciplinas específicas voltadas para a gestão da sustentabilidade e governança, bem como conteúdos interdisciplinares. Uma opção interessante é a aplicação do método de ensino denominado PBL (Problem-Based Learning), que permite aos alunos resolver problemas relacionados ao cotidiano das empresas”, finaliza o professor Samuel.

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
3 de maio de 2021