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A importância de monitorar a obesidade e o sobrepeso na infância e na adolescência

Pesquisadoras da PUC-Campinas analisaram dados de países com diferentes perfis de desenvolvimento econômico. Acesso a alimentos industrializados e à tecnologia elevam os índices de prevalência de sobrepeso entre os jovens

Por Patricia Mariuzzo

A condição de obesidade e sobrepeso é um problema de saúde pública que afeta pessoas e diversas faixas etárias. No entanto, entre crianças e adolescentes ela desempenha um papel mais importante por conta da complexidade do tratamento, da alta probabilidade de persistência na vida adulta e do início precoce de doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares, por exemplo. O monitoramento desta população é fundamental para desenhar programas e políticas de saúde pública específicos para estes públicos. “Isso é fundamental porque as doenças que podem decorrer da obesidade e do sobrepeso podem comprometer diretamente a qualidade de vida dos jovens, além de estarem associadas a mortes prematuras”, explica a professora da Faculdade de Nutrição da PUC-Campinas, Carla Cristina Enes. Juntamente com a professora Luciana Bertoldi Nucci e com a aluna Carolina Cunha Prado, da mesma Faculdade, ela participou de um estudo para descrever a prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes a partir de inquéritos nacionais de base escolar. Os resultados da pesquisa foram publicados na última da Sustinere: Revista de Educação e Saúde, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

No estudo, elas compararam 11 inquéritos de base escolar sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes entre 13 e 17, com representatividade nacional, realizados em países com características muito diferentes entre si, como Brasil, Estados Unidos, Canadá, China, Argentina, Camboja, Grécia e Irã. “Após revisão dos resultados, vimos que na grande maioria dos países as prevalências de excesso de peso em adolescentes se encontram entre 10% e 20%, embora haja muita variação em função da faixa etária estudada e critérios adotados para a definição de sobrepeso e obesidade”, escreveram as pesquisadoras.

Ainda de acordo com elas, a prevalência de excesso de peso varia de acordo com a situação econômica do país, sendo esta menor nos países mais pobres e maior em países mais ricos. “Isso nos leva a supor que o acesso a uma diversidade maior de alimentos industrializados, associada às novas tecnologias disponíveis e acessíveis aos adolescentes nos países mais ricos, contribuiu para um comportamento mais sedentário e, consequentemente, para o excesso de peso desses adolescentes. À medida que esse acesso alcança os adolescentes que vivem em países menos desenvolvidos, observa-se um aumento nas prevalências de excesso de peso”, afirmaram as pesquisadoras da PUC-Campinas.

Fatores associados – A nutricionista Carla Cristina Enes destaca, ainda, que durante a adolescência ocorrem muitas alterações físicas e psicoemocionais que coincidem com mudanças importantes do padrão alimentar desses jovens que frequentemente podem abandonar hábitos alimentares saudáveis, como consumo de frutas, leite e derivados e alimentos tradicionais como arroz e feijão, e substitui-los pelo consumo frequente de alimentos ultraprocessados, fast foods etc., todos eles com elevada densidade energética, o que favorece em grande medida o ganho de peso excessivo. A falta de prática de atividade física regular associada ao tempo excessivo de tela (celular, computador, videogames) também é considerado um fator de risco para o ganho de peso excessivo.

Distúrbios emocionais e de ansiedade podem desencadear transtornos alimentares nesses jovens afetando diretamente seu consumo alimentar. “Além disso, transtornos depressivos também podem ser um gatilho para o desenvolvimento de transtornos alimentares que favorecem a ingestão excessiva de calorias, levando ao ganho de peso indesejado”, comentou a professora da Faculdade de Nutrição da PUC-Campinas. Ela destacou ainda que o contexto da pandemia é capaz de agravar o problema da obesidade. “Isso acontece na medida em que se observa um aumento desses transtornos relacionados à saúde mental, e consequentemente, aparecem com maior frequência os transtornos alimentares, caracterizados pelo consumo preferencialmente de alimentos de alto conteúdo calórico em grandes quantidades em um único episódio. Além disso, a pandemia também contribuiu para a redução da prática de atividade física devido às restrições de circulação”, afirmou.

A obesidade é fator de risco para inúmeras doenças crônicas como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, além de problemas ortopédicos e transtornos emocionais. Embora a obesidade seja um distúrbio de natureza multifatorial, alguns fatores de risco modificáveis como alimentação inadequada e prática de atividade física insuficiente tem se mostrado como sendo os principais fatores responsáveis pelo aumento de sua prevalência.

“As intervenções que visam a promoção de hábitos de vida mais saudáveis passam tanto por medidas educacionais como regulatórias como a proibição da publicidade de alimentos não saudáveis para o público infantil, rotulagem nutricional dos alimentos, proibição de comercialização de alimentos não saudáveis em ambientes escolares, medidas fiscais com criação de tributos sobre alimentos não saudáveis e subsídios para alimentos in natura e minimamente processados”, apontou Carla. Ainda de acordo com ela, a introdução alimentar correta, orientada por um profissional nutricionista também é fundamental para a adoção de práticas alimentares saudáveis nos primeiros anos de vida, que se perpetuarão ao longo da vida.



Vinícius Purgato
4 de outubro de 2021