Acorda, tu que dormes, Cristo ressuscitou!
Ao longo da Semana Santa, revivemos, na fé, os últimos e decisivos passos de Jesus de Nazaré no cumprimento de sua missão de forjar no mundo o Reino de Deus. Depois de entrar de forma triunfal em Jerusalém, aclamado pelos pequenos e pobres como filho de Davi, Ele, o Príncipe da Paz, protagonizou o drama da paixão. “Esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).
Lavou os pés dos discípulos para ensinar-lhes a arte do serviço desinteressado à vida; na ceia derradeira, deu-lhes o mandamento do amor sem medida, significado no sacramento do seu corpo e sangue; no alto da cruz, perdoou os traidores e malfeitores que o espezinhavam. “Ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes…ele não abriu a boca. Foi atormentado pela angústia, foi condenado…e foi golpeado até morrer” (Is 53,5-8). Com efeito, em sua vida e em sua morte, “Ele assumiu nossas dores” (Is 53,4).
A identificação profunda do Filho de Deus com a humanidade, iniciada na Encarnação, foi radicalizada na cruz, pois “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). A propósito, o Papa Francisco recorda que os sofredores do mundo são a própria carne de Cristo, e o texto final da Conferência de Aparecida (n. 65) enumera alguns rostos nos quais se pode vislumbrar o próprio rosto de Cristo maltratado e sofredor: comunidades indígenas e afro-americanas; mulheres; pobres; desempregados; migrantes; deslocados; agricultores sem-terra; pessoas que sobrevivem da economia informal; crianças submetidas à prostituição infantil e ao turismo sexual; crianças vítimas do aborto; pessoas e famílias inteiras que vivem na miséria e passam fome; dependentes de drogas; pessoas com limitações físicas; portadores e vítimas de enfermidades graves que sofrem com a solidão e a exclusão; pessoas que são vítimas de violências, sequestros, terrorismo, conflitos armados, etc.; presidiários e idosos, entre tantas outras categorias em cujas vidas, marcadas permanentemente por sofrimento e dor, o drama da paixão do Senhor se prolonga na história.
Todavia, Deus Pai, Senhor da Vida, não permaneceu impassível diante da morte e ressuscitou o Filho (Gl 1,1). Numa antiga homilia, do século IV, conservada na Igreja, o pregador, inspirado, afirmava que “Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos…O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa…[E disse aos que lá se encontravam:] “Acorda tu que dormes…Eu sou a vida dos mortos…Levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui: tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa…. Levanta-te, vamos daqui!” (Homilia no grande Sábado Santo, Liturgia das Horas).
A celebração da Páscoa, portanto, é vitória da Vida sobre toda morte e todo mal, e se configura ocasião especial para buscarmos identificar nossa vida com a vida de Cristo que em tudo quis se identificar com a nossa vida, menos no pecado.
Que as celebrações da Páscoa da Ressurreição do Senhor aumentem em todos o amor a Deus e aos irmãos, nos quais o Senhor quer ser encontrado, especialmente nos mais sofridos e desamparados. Que seu convite ressoe forte em nossos corações e mentes e, guiados por sua luz, acordemos, levantemos e saiamos ilesos de tantas situações de morte que diuturnamente ameaçam a dignidade e sustentabilidade da vida humana.
Feliz Páscoa da Ressurreição para toda a Comunidade Universitária!
Pe. João Batista Cesário
Pastoral Universitária