Entre as tarefas de direção da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, tem sido comum o contato com estudantes concluintes do ensino médio ansiosos por conhecer um pouco mais sobre a profissão. Alguns fazem uma visita física, às vezes acompanhados dos pais, ao passo que outros preferem o contato pelas mídias digitais. Todos, porém, estão às portas do vestibular, momento que exige a escolha por uma carreira, tantas vezes sem a posse dos critérios necessários para um discernimento adequado. E se nos procuram é porque têm mais um aspecto em comum: em algum momento da vida o jornalismo foi pensado como um caminho, entre tantos outros, por meio do qual vislumbram a possibilidade de tornarem-se não apenas profissionais competentes, mas, principalmente, homens e mulheres felizes e realizados.
Os alunos mostram interesses em questões como o desejo de conhecer as estruturas laboratoriais da instituição, em saber sobre a realidade salarial da profissão ou curiosidade para conseguir distinguir entre as diferentes mídias e dúvidas sobre as áreas do jornalismo em que é possível atuar.
Nesses contatos, uma questão que não tem mais surgido com frequência é a não obrigatoriedade do diploma de curso superior em jornalismo para o exercício profissional. Essa ausência no discurso dos estudantes merece uma atenção. A título de especulação – e sem um estudo mais sistematizado sobre o assunto –, arrisco a apontar dois elementos que possam contribuir para a compreensão desta lacuna.
O primeiro, mais evidente, é o tempo. Talvez os atuais candidatos aos cursos de jornalismo, por serem muito novos em 2009, época da queda da obrigatoriedade, não tenham esse assunto de forma muito elaborada em seu repertório. E simplesmente já começaram a pensar em jornalismo em um contexto já dado, no qual a formação superior não é colocada como condição imprescindível, assim como acontece em áreas muito procuradas pelos estudantes, como publicidade e propaganda ou marketing.
O segundo elemento, talvez mais interessante, brota da observação que temos feito sobre este tema junto às empresas de comunicação, seja de jornal impresso, rádio, televisão, internet ou assessoria de imprensa. O que se percebe é que, apesar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) acerca da não obrigatoriedade do diploma, as empresas não alteraram a política de contratação e continuam abrindo suas portas para profissionais egressos das faculdades de jornalismo.
Esta observação é importante como um aspecto, não o único, para o entendimento do papel que as escolas de jornalismo têm a desempenhar nesta nova realidade, cenário em que a mudança na questão do diploma convive com outras alterações significativas no mercado de trabalho e nos aspectos teóricos e práticos do fazer jornalismo. Isso porque o debate sobre a obrigatoriedade, ou não, do diploma, em nenhum momento significou a defesa do fim das boas faculdades de jornalismo. Antes, pelo contrário, é fundamental que tenhamos instituições de ensino sérias e comprometidas com uma formação consistente, a fim de que os futuros jornalistas tenham competência técnica e teórica para atuar neste novo cenário.
Dessa forma cabe afirmar que, com ou sem a obrigatoriedade do diploma, a busca da excelência na qualidade de ensino coloca-se como o principal desafio das instituições de ensino de jornalismo, pois só um jornalista bem formado poderá aproximar-se daquilo que se espera do jornalismo na sociedade atual, como elemento fundamental para a consolidação da democracia.
*Lindolfo Alexandre de Souza é diretor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas