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Competências dos profissionais de tecnologia para o século XXI

Psicólogas da PUC-Campinas investigam o papel da criatividade e adaptação no perfil profissional de profissionais de tecnologia para atender um mercado de trabalho em constante mudança

*Por Patricia Mariuzzo

Uma das características do mundo moderno é uma profunda dependência da tecnologia nos mais diversos setores da vida e do trabalho. E, se por um lado, a tecnologia facilita uma série de processos, por outro ela impõe uma nova velocidade em nosso cotidiano, novos modos de administrar os negócios e novas exigências no mundo do trabalho. Os profissionais de tecnologia estão entre os impactados neste ambiente de mudanças rápidas. Que competências e habilidades sobressaem nesses profissionais? Foi esta pergunta que motivou uma pesquisa da doutoranda e mestre em Psicologia pela PUC-Campinas, Karina Nalevaiko Rocha. Sob orientação da professora da Faculdade de Psicologia, Solange Muglia Wechsler, ela analisou o perfil de um grupo de profissionais de tecnologia atuantes no mercado em diferentes níveis. Publicados na Revista Ibero-Americana de Criatividade e Inovação, (Volume 02, nº 03, 2021), os resultados da pesquisa podem ajudar na estruturação de políticas de gestão de recursos humanos e no aprimoramento de cursos de formação destes profissionais. “O objetivo da pesquisa foi entender as competências que se sobressaem no perfil de profissionais de tecnologia, buscando identificar as principais habilidades que se relacionam com a inovação e os profissionais do futuro/amanhã”, contou Karina.

As pesquisadoras submeteram 146 profissionais da área de tecnologia, sendo 125 homens e 21 mulheres, a um instrumento de avaliação psicológica chamado “Método de Avaliação de Pessoas” (MAPA). Para traçar um perfil pessoal do indivíduo, este questionário possui com 14 escalas, subdivididas em 48 dimensões. Para o estudo, no entanto, as pesquisadoras da PUC-Campinas consideraram apenas as escalas empreender, foco, ordem, dinamismo. Empreender relaciona-se com busca de informações, competição e decisão. Quanto ao foco, este é composto pelas dimensões persistência, atenção e resistência à distração. Já ordem é composta pelas dimensões planejamento, organização e rotina e a escala dinamismo é composta por adaptabilidade, agilidade e diligência.

Segundo as pesquisadoras, estas são características cada vez valorizadas no mercado de trabalho, especialmente na área de tecnologia, que exige flexibilidade e demanda habilidades para além das competências cognitivas, que se relacionam mais diretamente à aprendizagem mais tradicional. É fundamental o desenvolvimento de competências relacionadas a criatividade e habilidades intrapessoal e interpessoal. “Entendemos por habilidades intrapessoais a capacidade de identificar e gerenciar nossas emoções, enquanto a habilidade interpessoal relaciona-se a capacidade de expressar ideias, identificar e responder aos estímulos das outras pessoas”, explicou Karina.

De acordo com ela, estas habilidades não estão relacionadas a um tipo específico de personalidade. “Não podemos afirmar que somente os extrovertidos possuem estas habilidades, uma vez que, pessoas introvertidas também podem ter um ótimo relacionamento intra e interpessoal, mesmo que com uma tendência de comportamento mais reservado. Precisamos tomar um certo cuidado com o que chamamos de ‘cultura da extroversão’, ou seja, nossa cultura tende a valorizar mais a extroversão, mas acredito que esta é uma visão incompleta do potencial das pessoas”, complementa a pesquisadora. Estas habilidades podem ser desenvolvidas, inclusive através de ações formais. Diversos estudos demonstram resultados efetivos no desenvolvimento de habilidades não cognitivas através de programas estruturados que iniciam na educação infantil e seguem durante a vida adulta.

Os resultados obtidos no levantamento feito pelas pesquisadoras mostram que os profissionais de tecnologia se sobressaem nas quatro dimensões avaliadas. Na dimensão empreender, por exemplo, eles destacam da média por serem profissionais que buscam se manter atualizados em diversos assuntos, mostrando curiosidade. “Também se destacam pela capacidade de realizar atividades que exigem atitude competitiva, motivando-se quando são desafiados a enfrentar obstáculos na busca de soluções de problemas”, explicaram as pesquisadoras da PUC-Campinas. De acordo com elas, este resultado denota uma nova postura profissional diante de um cenário que demanda uma nova velocidade, exigindo habilidades relacionadas a uma rápida leitura dos cenários e contextos envolvidos, senso crítico apurado e capacidade de decisão.

Os profissionais de tecnologias que foram alvo do estudo também apresentam um padrão acima da média em termos de foco. “Eles demonstram habilidade de empenhar-se para conseguir atingir as metas que se propôs, vencendo obstáculos, com facilidade em manter-se atento na realização de tarefas, e resistindo a distrações externas. Eles também se sobressaem em termos de planejamento e organização, com facilidade de programar atividades, estabelecendo prioridades. Podem ter dificuldade com rotina, ou seja, dificuldade de cumprir tarefas que exijam um único padrão e que não apresentem desafios.

Mulheres no comando – Um resultado surpreendeu as pesquisadoras. As mulheres que atuam na área de tecnologia destacam-se pela sua capacidade de comando, ou seja, motivam-se para exercer a coordenação de tarefas de um grupo, conduzindo seus integrantes à metas e resultados, ocupando em alguns momentos posições de liderança, mesmo que uma liderança informal. “Acredito que este dado demonstra um avanço importante na representatividade da mulher no mercado e ambiente de trabalho. A dimensão comando relaciona-se às habilidades de liderança, assim, este dado demonstra que as mulheres estão cada vez mais se preparando e ocupando espaços que anteriormente eram predominantemente masculinos. Elas eram minoria em posições de liderança, especialmente na área de exatas, como a tecnologia e engenharia. No entanto, a mulher está consolidando um novo papel social, mais empoderada e preparada”, pontuou Karina.

Criatividade e adaptação – Ainda de acordo com elas, estas informações podem ser um importante subsídio para gestão de recursos humanos nas empresas, contribuindo para construção de estratégias de atração e retenção e desenvolvimento destes profissionais. Para a área de educação há um grande desafio, talvez sem precedentes. “O dinamismo, a velocidade e a complexidade que se impõem neste novo momento exigem um novo modelo educacional, no qual as escolas e universidades busquem formar profissionais capazes de fazer as perguntas certas, e não apenas responder às perguntas conhecidas”, afirma Karina. Um caminho para isso, segundo ela, seria contemplar a criatividade como uma disciplina científica nos currículos acadêmicos. “Entendo que as instituições formadoras devem proporcionar espaços destinados ao treinamento e desenvolvimento da criatividade. Desta forma, estaremos preparando os futuros profissionais a lidar com crises e problemas nunca vivenciados, capazes de propor soluções inovadoras”, finalizou.



Vinícius Purgato
9 de agosto de 2021