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Estudo avalia fragmentos florestais e a segurança hídrica de Campinas

Remanescentes de florestas do Rio Atibaia são fundamentais para manutenção da qualidade e quantidade de água que chega em nossas casas

Com 2,8 mil km2, a Bacia do Rio Atibaia está diretamente relacionada a duas regiões importantes do Estado de São Paulo. Uma delas é a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), uma vez que o Rio Atibaia compõe o Sistema Cantareira que abastece metade da Grande São Paulo. A outra é a Região Metropolitana de Campinas (RMC): dos 20 municípios que a compõem, 19 usam direta ou indiretamente as águas da Bacia, seja para captação de suas águas, seja para lançamento de esgoto doméstico. De origem Tupi, Atibaia, significa rio manso, de águas tranquilas e abundantes. O Rio é o principal manancial de abastecimento de Campinas, são suas águas tranquilas e abundantes que atendem 93,5% da demanda da cidade.

O intenso processo de urbanização, entretanto, coloca em risco tanto a qualidade, como a qualidade dessas águas, especialmente por conta da supressão dos fragmentos florestais ao longo da Bacia do Rio Atibaia. Uma das principais funções ecossistêmicas desses remanescentes é justamente a proteção dos mananciais. De acordo com a engenheira ambiental e mestre em Sistemas de Infraestrutura Urbana, pela PUC-Campinas, Alessandra Leite da Silva, existem grandes riscos associados à supressão desses remanescentes. “O primeiro é porque pode ocorrer a diminuição da quantidade de água disponível, devido à diminuição da recarga de água subterrânea, pela infiltração de água no solo que é grandemente facilitada pelos remanescentes florestais. O segundo é a perda da qualidade de água disponível; isto porque o solo da região do Atibaia é altamente sensível à erosão, e retirar a vegetação que protege esse solo poderia causar o assoreamento dos rios em um curto espaço de tempo”, explica a pesquisadora.

Juntamente com a professora do Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia, Regina Longo, Alessandra conduziu um estudo sobre a fragmentação florestal na sub-bacia hidrográfica do Rio Atibaia no município de Campinas. Os resultados da pesquisa foram publicados no final do ano passado em uma revista especializada.

A maioria dos remanescentes florestais mapeados na bacia hidrográfica do rio Atibaia está fora do perímetro urbano do município. Segundo ela, estão em sua maioria dentro da área de abrangência da APA (Área de Proteção Ambiental) de Campinas, uma área ambientalmente protegida por legislação nacional (Lei do SNUC – Nº 9.985/2001) que estabelece algumas restrições para a ocupação dessa área. Em Campinas, a APA foi instituída com objetivos específicos para garantir a conservação, proteção e recuperação do meio ambiente no território municipal.

A partir de conceitos da ecologia da paisagem que demanda a utilização de métricas como tamanho do fragmento, índice da área central, índice de circularidade, distância do vizinho mais próximo, proximidade do curso d´água e grau de erodibilidade do solo, elas buscaram determinar a qualidade ambiental dos remanescentes florestais. Mesmo estando em área protegida, os remanescentes apresentam alto grau de fragmentação. Segundo Alessandra, atesta essa conclusão o elevado alto de fragmentos, de tamanho pequeno e com baixa representatividade de área central.

Vulnerabilidade ambiental

O levantamento também mostrou que boa parte dos remanescentes não tem área central, ou seja, são áreas de borda. Dos 1.368 remanescentes na sub-bacia do Rio Atibaia, em Campinas, apenas 126 (9,2%) apresentam área central. A maioria dos fragmentos também tem formato alongado, mais frágeis do ponto de vista ambiental. “A área central é a parte mais preservada e sensível de um remanescente florestal, onde espécies menos comuns e mais sensíveis habitam; por sua vez, as bordas são as áreas que mais recebem as pressões externas (humanas ou não) vindas do entorno. Quando o remanescente tem um formato circular significa que todas as bordas estão igualmente distantes de sua área central, ou seja, sua porção mais sensível está mais protegida. Já quando um remanescente é muito alongado, ele acaba recebendo altos níveis de pressões em toda a sua abrangência”, esclarece Alessandra. Ainda de acordo com ela, a diminuição da qualidade ambiental que pode resultar dessas pressões tem efeito direto à fauna e flora, provocando, por exemplo, extinções locais e comprometendo a organização de espécies sob a forma de metapopulações, quando indivíduos da mesma espécie se estabelecem em manchas de hábitats e se deslocam entre fragmentos para interagir entre si, aumentando a chance de sobrevivência da população.

O estudo conduzido na PUC-Campinas possibilitou identificar ainda que 80,8% dos remanescentes se encontram próximos uns dos outros, a menos de 60 metros. “Isso indica forte potencial de estabelecer corredores ecológicos nas áreas marginais do rio Atibaia”, apontou Alessandra. Corredores ecológicos são uma estratégia que tem justamente como objetivo reduzir os efeitos da fragmentação florestal por meio de ações que promovam a conexão de remanescentes, possibilitando o deslocamento e a dispersão de espécies da fauna e da flora.

Os remanescentes florestais estão localizados em áreas com alto grau de erodibilidade do solo. “Essa condição corrobora para que a sub-bacia do rio Atibaia apresente alta vulnerabilidade ambiental”, alerta Alessandra. Isso significa baixa resistência e habilidade de recuperação e regeneração desse ecossistema após interferências, o que pode resultar em mudanças irreversíveis.

O Plano Diretor de Campinas (2017) e o Plano do Verde (2015) já reconhecem esse problema, entretanto, na opinião de Alessandra, a preservação desses remanescentes requer um trabalho em grupo entre a comunidade científica, os gestores municipais e a população local. “Compreender o importante papel que esses remanescentes prestam à sociedade e ao equilíbrio ambiental e entender as implicações que sua supressão ou mal conservação podem ocasionar é a peça fundamental para garantir que eles sejam devidamente preservados e protegidos. É por isso que iniciativas como esta, de divulgar resultados de trabalhos em meios de comunicação não científicos são tão importantes. Programas de Pagamento por Serviços Ambientais, programas de conscientização em escolas, universidades e outros grupos, divulgação em meios de comunicação locais e municipais, distribuição de materiais de conscientização são outros exemplos que podem aumentar o nível de consciência ambiental da população e garantir uma melhor preservação desses locais”, finaliza.

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
8 de março de 2021