Estudo conclui que BRT melhora mobilidade, trânsito e acessibilidade, mas afetará comércio e serviços
Concentração do fluxo de pessoas no canteiro central e plataformas diminui o número de pedestres nas calçadas laterais
No último dia 5 de março, entrou em operação a primeira estação na região central do Corredor BRT, localizada na avenida João Jorge. De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), cerca de 13 mil usuários do transporte público serão beneficiados com a entrega da plataforma de embarque e desembarque. As obras do Sistema BRT (transporte rápido por ônibus, na sigla em português) começaram em 2017 e os trechos concluídos vêm sendo liberados para circulação desde 2019.
O Sistema inclui três corredores: Campo Grande, Ouro Verde e o Perimetral, ligando os dois primeiros. Quando estiver em operação, os ônibus circularão em faixas exclusivas, separadas do trânsito comum. Os usuários farão embarque e desembarque pelo lado esquerdo, com acessibilidade, no nível dos ônibus. Ainda segundo a Emdec, os veículos serão articulados, com ar-condicionado. A tarifa será paga antes de embarcar. As linhas convencionais (alimentadoras) funcionarão integradas às do BRT. Segundo informações da Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura de Campinas, a obra completa será entregue até o meio do ano.
A implantação dos corredores é a maior obra de mobilidade urbana já realizada em Campinas, com investimentos da ordem de R$ 450 milhões e deve melhorar a qualidade do transporte para cerca de 450 mil pessoas, ou 40% da população da cidade. O intenso processo de urbanização tem colocado para os gestores de médias e grandes cidades o desafio de prover mobilidade de qualidade para grandes contingentes populacionais. Mais do que isso, uma das metas da Agenda 2030, em seu ODS 11 – “Cidades e comunidades sustentáveis” – é proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos. Em que medida a implantação do Sistema BRT avança na direção de uma mobilidade mais sustentável na cidade de Campinas?
De acordo com a professora e pesquisadora do Programa de Mestrado em Sustentabilidade da PUC-Campinas, Bruna Branchi, a mobilidade urbana sustentável é uma forma de organização do transporte urbano, ou seja, uma política de transporte público que favorece o acesso democrático e difuso ao espaço urbano, de forma que os deslocamentos sejam realizados de modo a priorizar os modais não motorizados e coletivos, em detrimento dos meios individuais motorizados, priorizando as pessoas, de maneira socialmente inclusiva, efetiva e ecologicamente sustentável. Juntamente com os pesquisadores Renata Covisi Pereira, Denise Helena Lombardo Ferreira e Tadeu Souza, Bruna analisou os efeitos da implantação do BRT em Campinas no Corredor Ouro Verde na mobilidade urbana. O estudo foi publicado em 2020 no livro Temas emergentes do planejamento urbano, de acesso livre.
No Brasil, o primeiro sistema de BRT foi implantado em 1965, em Curitiba. Entre as características do sistema estão a segregação do tráfego em vias exclusivas, sistemas de bilhetes eletrônicos, aplicativos de localização, embarque e desembarque mais rápidos e seguros, acessibilidade. Há vantagens como o tempo de implantação mais curto (em média dois anos e meio) e o custo inferior ao do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e ao do Metrô. “Mas, para obterem impactos positivos na mobilidade das cidades, os projetos BRT devem considerar as dimensões principais da sustentabilidade: a econômica, a social e a ambiental”, afirma Bruna. “Estudos em outras cidades, brasileiras e latino-americanas, onde foi implantado o BRT, mostram que seu custo-benefício é favorável, atenua os engarrafamentos, diminui emissões de poluentes, propiciando alternativas de modais para as camadas populacionais de menor poder aquisitivo. Então, neste sentido, o BRT de Campinas tem esse potencial”, complementa.
Os pesquisadores do Programa de Mestrado em Sustentabilidade da PUC analisaram cinco pontos na extensão do Corredor Ouro Verde, considerando um cenário futuro, destacando os impactos esperados nas três dimensões da sustentabilidade. Para a dimensão econômica, por exemplo, eles avaliaram a acessibilidade ao comércio e aos serviços do entorno. No caso da variável ambiental, foram considerados a qualidade da arborização, existência de lixeiras e o volume de poluentes emitidos. Oferecer uma estrutura adequada dos pontos e plataformas de embarque e desembarque em relação ao fluxo de pessoas, acessibilidade e segurança foram aspectos considerados para avaliar a dimensão social.
Eles concluíram que o comércio e o serviço de todos os pontos analisados podem ser afetados negativamente com a implantação do BRT, pois, apesar de regularizar a situação das faixas de pedestres e semáforos, ele concentra o fluxo de pessoas no canteiro central e plataformas, diminuindo o número de pedestres nas calçadas laterais, mais próximas aos estabelecimentos. Os demais aspectos foram avaliados de forma positiva, pois as novas estruturas estão sendo planejadas contemplando os temas de acessibilidade, segurança e coleta de resíduos. Além disso, há uma tendência de redução de emissão de poluentes, considerando a utilização de ônibus maiores e mais modernos, com trajetos mais otimizados. “Esse resultado, no entanto, vai depender da adoção de veículos menos poluidores ou com poluição nula, como, por exemplo, os ônibus elétricos”, considera Bruna. “Há, sim, avanços na promoção da mobilidade urbana sustentável. Isso inclui um impacto relevante na equalificação da área da cidade onde está instalado o BRT”, finaliza a pesquisadora da PUC-Campinas.
Por Patricia Mariuzzo