IMAGINÁRIA DEVOCIONAL NA FORMAÇÃO DA ARQUIDIOCESE DE CAMPINAS
O estudo da História e da memória em âmbito local está diretamente ligado ao sentimento de pertencimento, seja a uma cidade, seja a uma cultura, seja a uma comunidade, e é por meio desse estudo que podemos compreender as bases que, há tempos, foram criadas para que possamos desfrutar dos avanços e comodidades nos dias atuais.
Olhando para a realidade atual da cidade e da Arquidiocese de Campinas pode ser difícil de imaginar a sua fase inicial. A realidade em que estamos inseridos muitas vezes nos passa a impressão de que sempre foi assim.
O objetivo dessa exposição é resgatar parte dessa memória e lançar luz sobre a história da formação da Arquidiocese de Campinas, inserida no contexto de criação e evolução da cidade, duas frentes interligadas, já que, nesse período, a criação de um bispado estava diretamente relacionada à relevância política, social e religiosa da cidade.
A fundação da cidade de Campinas tem suas raízes ligadas ao movimento de desbravamento do interior paulista durante o século XVIII, em busca de riquezas, principalmente de minas de ouro e pedras preciosas, seguindo o exemplo do que acontecia, sobretudo, em Minas Gerais, naquele que ficou conhecido como o “Ciclo do Ouro”.
Esse desbravamento do interior fez com que uma estrutura ainda incipiente fosse desenvolvida para atender os viajantes, e uma dessas “paragens” foi estabelecida na região de Campinas no final da década de 1730, com o aglomerado das primeiras famílias, que se baseavam na agricultura de subsistência. Apesar das dificuldades enfrentadas no início, com as preocupações práticas em relação à sobrevivência, a religiosidade sempre se fez muito presente por meio das pequenas imagens devocionais que essas famílias carregavam durante as suas viagens, uma vez que a presença institucional da Igreja ainda era muito precária, quando afastada das cidades já constituídas.
O desenvolvimento econômico e social dessa “paragem” revelou uma necessidade de atendimento espiritual, uma vez que, à época, o serviço religioso era de suma importância para o bem viver da sociedade, e a paróquia mais próxima se encontrava na cidade de Jundiaí.
Faço saber que por sua petição me representaram os moradores do Mato Grosso da Vila de Jundiaí que requerendo-me eles, suplicantes, para erigirem uma capela na paragem chamada Campinas, onde pudessem ser socorridos com os sacramentos, dos quais, pela longa distância de sua freguesia, padeciam grave falta, morrendo no decurso de dezoito anos a esta parte vinte e três pessoas sem os sacramentos da confissão e eucaristia […] (VÁRIOS AUTORES, 2004, p. 20)
Com isso, uma petição realizada pelos moradores fez com que o poder político e religioso autorizasse a construção de uma capela e a consequente fundação da “Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí”, no ano de 1774.
A partir daí, o desenvolvimento e o crescimento da região foram propiciando diversos avanços, como a elevação à Vila de São Carlos, em 1797, e à condição de cidade, em 1842, assumindo, desde então, o nome de Campinas.
Até o ano de 1889, a Igreja estava juridicamente atrelada ao Estado e, consequentemente, suas ações de evangelização dependiam dos recursos disponibilizados a ela, gerando uma dependência. Porém, com a Proclamação da República e declaração do Estado laico, o desprendimento das rédeas do poder político fez com que a Igreja começasse um processo de expansão, permitindo uma atuação mais próxima em cidades menores e mais distantes. Como resultado disso, em 1908, é criada a Província Eclesiástica de São Paulo, com o desmembramento da Diocese Paulista, que até então era única para todo o estado, em cinco novas sedes, a saber: Campinas, São Carlos, Botucatu, Ribeirão Preto e Taubaté.
Do ponto de vista local, a religiosidade popular e a devoção das pessoas, expressas pela produção artística nas imagens devocionais, foram a base para o início da atuação do bispado campineiro. Isso porque, durante todo o período, desde a sua fundação, em 1774, até a criação da Diocese, em 1908, a religiosidade popular se arraigou nos costumes da população, a qual a Igreja soube incorporar ao seu funcionamento institucional.
Parte dessa devoção popular apresentamos nessa exposição, na qual buscamos demonstrar, por meio da evolução da produção artística, partindo de peças mais simples, feitas de barro, até imagens maiores, em madeira e com policromia, a evolução econômica e social, juntamente com a evolução da prática religiosa, que se renovou com o passar do tempo, acompanhando o ritmo de evolução da cidade de Campinas.