Nova encíclica do Papa Francisco defende fraternidade mundial
Nomeado “Fratelli Tutti”, documento foi divulgado no último domingo (4), Dia de São Francisco de Assis
O Papa Francisco divulgou no último domingo (4), Dia de São Francisco de Assis, a nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, que defende a fraternidade e a amizade social como elementos para a construção de um mundo melhor, mais justo e pacífico. O Pontífice lembrou a crise sanitária global causada pela covid-19 para reforçar mensagem de que “ninguém se salva sozinho”, destacando o sentido do título “Todos Irmãos”, traduzido em português.
A carta encíclica é um documento pontifício, uma comunicação escrita pelo líder máximo da Igreja Católica (Papa), cujo objetivo é orientar lideranças religiosas e fiéis sobre assuntos que envolvem o bem-estar da sociedade. Nesta oportunidade, o Papa Francisco comenta os possíveis caminhos para o alcance da fraternidade nas relações cotidianas, na política e nas instituições.
Nos capítulos que compõem o documento, o Pontífice aponta diversos problemas sociais, como a manipulação e as deformações nos conceitos de democracia, liberdade e justiça; o egoísmo e a falta de interesse pelo bem comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do descarte; o desemprego, o racismo e a pobreza; a desigualdade de direitos e as suas aberrações como escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres subjugadas e o tráfico de órgãos. “Esses são problemas que requerem ações globais”, pontua o Papa Francisco.
Questões como o cuidado com os mais frágeis e vulneráveis, a paz entre as religiões, a ética das relações internacionais – trecho no qual cobra o compromisso dos países com o acolhimento de imigrantes –, a polarização política e a ameaça da produção de armas nucleares foram também temáticas abordadas pelo religioso na encíclica “Fratelli Tutti”. Em todos esses aspectos, o Papa pediu contribuição para a construção de uma sociedade inclusiva e solidária que possa favorecer a reunificação familiar, a proteção dos menores, a liberdade religiosa e os direitos fundamentais.
De acordo com o Prof. Dr. Pe. Paulo Sérgio Lopes Gonçalves, da Faculdade de Teologia da PUC-Campinas, o documento afirma o pressuposto fundamental do Evangelho de que a humanidade se constitui de diversos povos, marcados por sua respectiva singularidade identitária em termos sociais, culturais, políticos e religiosos, que são interpelados à vivência da unidade.
“Diante desses pressupostos, o Papa analisa a situação do mundo na atualidade, constatando as desigualdades sociais e econômicas, a tensão entre democracia e autoritarismo, a insistência de projetos imperiais e a emergência de projetos de cooperação entre os povos, a crise ecológica, com a depredação da casa comum e, ao mesmo tempo, o apelo à realização da ecologia integral. Em seguida, o Papa mostra, à luz da fé, a abertura do mundo para um novo projeto político-social, em que a vida seja defendida e promovida em todas as suas dimensões, e em que a pobreza seja assumida como modus spiritualis de vivência, seja no âmbito pessoal seja no âmbito social”, diz o docente.
O Pe. Sérgio afirma, ainda, que o Papa realça a função das religiões na promoção de uma cultura da paz e de uma ecologia integral, enfatizando o papel da Igreja em promover e despertar a humanidade para a unidade, porque somos todos irmãos, filhos e filhas de Deus.
“Enfim, a carta encíclica é uma mensagem, com imensa argumentação filosófica e teológica, de esperança em uma época em que vivemos a pandemia do vírus e a pandemia da injustiça. Realçar a esperança e crer que o mundo fraterno, justo e de paz é passível de ser construído. Sem sombras de dúvidas é um conteúdo que nos põe a pensar e meditar sobre a nossa existência e nos recoloca em caminho de recuperação do sentido de sermos irmãos, membros da família única de Deus”, finaliza.
Foto e informações: Vatican News