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O potencial da geração de valor dos negócios sociais

Ao buscar atender camadas mais vulneráveis empresas ocupam lacunas deixadas pelo governo e por empreendimentos tradicionais

O acirramento das desigualdades sociais no Brasil por conta da pandemia de covid-19 mostrou a importância de contar com empresas que buscam preencher as lacunas que governos, empresas privadas e outras instituições deixam de atender. Estes são os chamados negócios sociais, termo cunhado pelo economista Muhammed Yunus, idealizador do Grameen Bank, primeiro banco do mundo especializado em microcrédito e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. “Na maioria das vezes, o público alvo destas empresas é composto justamente pelas camadas mais vulneráveis da população”, destaca o administrador e ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da PUC-Campinas, Fábio Luiz Papaiz Gonçalves.

De acordo com Yunus (2010), os negócios sociais dividem-se em: empresas que visam dar benefícios sociais para as pessoas, desenvolvendo produtos com objetivos sociais e sendo independentes financeiramente; e empresas que visam o lucro e dividem seus dividendos entre seus trabalhadores, de forma a ampliar a empresa, criar benefícios sociais e reduzir a pobreza. Idealmente, os negócios sociais têm estruturas de custos baixos, canais de entrega eficientes, receitas comerciais e suporte financeiro público. “Os negócios sociais não têm nenhuma relação com caridade. São instituições que buscam, como objetivo primário, o valor social, ou seja, promover e oferecer algum tipo de bem social para a população, seja na área de educação, saúde, habitação e outras. Essas instituições possuem, em geral, mecanismos que as levam ter sustentabilidade financeira, como a venda de produtos e serviços e investimentos”, afirma Fábio, cuja pesquisa teve orientação de Cibele Roberta Sugahara e coorientação de Denise Helena Lombardo Ferreira, ambas professoras do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da PUC-Campinas. Parte dos resultados foram publicados este ano na Revista Grifos, da Unochapecó (Universidade Comunitária da Região de Chapecó).

Recursos mais humanos

Negócios sociais têm potencial de atrair recursos humanos com um perfil específico. “Em geral, os funcionários ou colaboradores desse tipo de instituição buscam esses negócios por suas missões e pelo que acreditam ser o correto a fazer. Para essas pessoas, um fim social é mais importante do que um alto salário”. Mas isso não significa necessariamente que esses negócios não possam oferecer salários competitivos. “Estas empresas podem buscar o lucro de modo paralelo à sua missão social. Com isso, elas obtêm receitas, equilíbrio financeiro para o desenvolvimento de suas atividades e a possibilidade de atrair bons recursos humanos, tendo bons salários como um dos fatores de atração”, pontua Fábio.

Em sua pesquisa, ele analisou a geração de valor socioambiental em cinco negócios sociais, levando em conta cinco elementos: capital físico (acesso à moradia, acesso a bens duráveis); capital produtivo (acesso à bens de produção, trabalho, inserção em cadeias de valor); capital humano (acesso à educação, à serviços de saúde e à alimentação saudável); capital social (acesso à informação, inserção em novas redes de relacionamento) e cidadania (identidade profissional; reconhecimento de direitos, consciência ambiental). Entre os objetivos dos negócios estudos estão diminuir a perda auditiva das pessoas por meio de tecnologia e inovações, aliado a um programa de saúde auditiva; oferecer cursos de capacitação para a construção de aquecedores solares de baixo custo e oferecer cursos de inglês e de liderança de forma gratuita. No conjunto de casos analisados pelo administrador, prevaleceu como principal geração de valor socioambiental o acesso a vagas de emprego, à saúde, à educação e a produtos.

O impacto social das empresas está no centro das discussões em torno da sustentabilidade. Um número significativo de empresas está incorporando a ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança). Como os negócios sociais podem influenciar ou até fortalecer este movimento? “Os negócios sociais não influenciam diretamente como empresas tradicionais funcionam, exceto em casos de parcerias entre esses dois tipos de instituição. Porém, indiretamente, acredito que grandes empresas acabam vendo as atividades desse tipo de negócio e se motivando a desenvolver trabalhos similares dentro de suas capacidades organizacionais”, finaliza Fábio.

Por Patricia Mariuzzo



Marcelo Andriotti
19 de janeiro de 2022