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Pesquisa aponta queda de 4,5 milhões de leitores no país nos últimos quatro anos

Diretor da Faculdade de Biblioteconomia da PUC-Campinas ressalta a importância da leitura como algo prazeroso e não como obrigação

Por Elton Mateus Felix

São 4,5 milhões de leitores a menos no Brasil em um comparativo entre 2015 e 2019, é o que apontou a pesquisa Retratos da Leitura, publicada em setembro pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, com aplicação do Ibope. Entre as justificativas dos não leitores a falta de tempo, de paciência e de prazer na atividade são as principais respostas. Também houve um crescimento no número de entrevistados que preferem o acesso à internet e o uso das redes sociais como forma de passatempo.

Contrariando algumas expectativas, o retrato também mostra uma diminuição de leitores nas classes sociais mais altas, bem como a perda de leitores envolvidos com o ensino superior. Por outro lado, há um aumento do hábito entre os mais jovens, com idade em ensino fundamental, que, por sua vez, afirmam ler por gosto.

A pesquisa ouviu 8.076 entrevistados, em 208 municípios, sendo 5.874 nas capitais de 26 estados. E considera como leitor aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. Já o não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos três meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses.

A PUC-Campinas convidou o Diretor da Faculdade de Biblioteconomia, Prof. Dr. Cesar Antônio Pereira, para ajudar na compreensão do que está por trás das discussões levantadas pelo Retrato da Leitura no Brasil. Pereira salienta que é preciso levar em conta o perfil comportamental daqueles que a pesquisa toma como não leitores. E ressalta a importância de haver um estímulo da leitura como uma atividade benéfica e prazerosa.

Confira a entrevista:

PUC-Campinas – Por que a ausência de hábito de leitura é um assunto que deve preocupar a sociedade?

Prof. Cesar Antônio Pereira – A ausência do hábito de leitura é um indicador de falta de acompanhamento do mundo, informações e das ideias que circundam a mente humana. Além disso, a leitura expande nossa percepção e nos permite refletir sobre nossa vida em todos os seus aspectos. Portanto, uma sociedade que não lê, limita a sua forma de aprendizado e evolução. Por outro lado, numa sociedade em que a aprendizagem é fator primordial de desenvolvimento e progresso, o hábito da leitura torna-se como um dos mais importantes recursos a serem trabalhados.

PUC-Campinas – Segundo a pesquisa Retratos da Leitura, muitas pessoas dizem não ler por falta de paciência ou porque encaram a leitura como obrigação. O que está por trás desses sentimentos?

C. A. P. – Quando não temos clareza do porquê de fazermos determinadas ações, ou neste caso da leitura, a tendência é diminuir o valor e interesse pelo conteúdo a ser aprendido; logo, ler se torna chato e maçante. Gostemos ou não, quando sabemos o benefício, a “obrigação” e a “falta de paciência” são minimizadas, viabilizando oportunidades de leitura. É necessário refletirmos sobre os benefícios e, nesse contexto, sobre a necessidade de mudança de cultura, de valor da leitura em nossa sociedade.

PUC-Campinas – Qual é o melhor caminho indicado para as pessoas que ainda não desenvolveram o hábito da leitura, ou que tiveram um mau primeiro contato com os livros?

C. A. P. – Indicaria a identificação de seu gosto literário, de conhecimento, de aprendizado, do que almeja para sua vida. Será muito mais fácil relacionar um livro ou qualquer registro informacional ao seu interesse ou necessidade de vida.

PUC-Campinas – Por outro lado, a pesquisa mostra que a leitura vem crescendo entre os mais jovens. O que pode ser feito para que esse quadro se mantenha nos próximos anos?

C. A. P. – Temos que acompanhar a juventude, estarmos cada vez mais próximos e conectados a eles. Seus interesses e anseios mudam repentinamente, afinal, é a fase que precede a vida adulta. Ao mesmo tempo que estão descobrindo o mundo, lhes são imputados, muitas vezes, a obrigatoriedade de definir, escolher e seguir caminhos para a vida adulta, como se, inclusive, fosse a última ação em suas vidas. Compreender suas vontades, interesses e anseios, não os isentando de certos porquês necessários para a vida, pode contribuir muito para o crescimento e a manutenção do hábito de leitura.

PUC-Campinas – O Brasil é o segundo país que passa mais tempo on-line, segundo uma pesquisa divulgada este ano pela Hootsuite. Essa situação compete com a busca por livros?

C. A. P. – O acesso às informações digitais é mais um mecanismo de aprendizado. Como o livro, as informações disponibilizadas na internet possibilitam a compreensão de fatos, notícias e conteúdos que circulam no mundo. Podem ser utilizadas para fins variados, como formação, uso em negócios e oportunidades, saúde, lazer e entretenimento, entre outros. Assim, a internet e o livro são fontes de informação. O que determina o seu maior ou menor uso é a necessidade de conteúdo relacionada ao tempo, facilidade e custo de acesso.

PUC-Campinas – O acesso à internet por si só é capaz de subsistir o aprendizado por meio dos livros?

C. A. P. – A internet possibilita acesso rápido, dinâmico e interativo a conteúdos de informação, embora tenhamos que discutir o conteúdo que está sendo acessado, pois existe muita informação fragmentada na internet. Assim, não podemos relacionar acesso à internet com o acesso a conteúdo de informação.

PUC-Campinas – De que maneira a internet pode contribuir para uma aproximação da população à literatura?

C. A. P. – Entendo que a compreensão das necessidades informacionais, atrelada à infraestrutura de acesso rápido e dinâmico, viabilizaria melhores oportunidades de leitura, tanto para livros físicos, quanto para digitais ou mesmo das informações na internet. Atenderíamos necessidades variadas e particularidades de manuseio do suporte-livro, físico ou digital.



Vinícius Purgato
5 de outubro de 2020