Pesquisa da PUC-Campinas encontra 30 vezes mais bactérias em carros por aplicativo do que em veículos particulares
Amostras coletadas por equipe de biomedicina da PUC-Campinas apontam maior chance de contaminação também em veículos que não tiveram manutenção no ar-condicionado
Uma equipe formada por estudantes de biomedicina, com o apoio da técnica do laboratório de microbiologia, Andréia Rodrigues Bucci, e coordenada pela Prof. Dra. Maria Magali Stelato, identificou, por meio de amostras coletadas, que os carros utilizados por motoristas de aplicativo são capazes de apresentar 30 vezes mais bactérias do que os automóveis utilizados por um único usuário.
Para o estudo, foram analisados dois tipos de bactérias presentes na superfície do volante, do câmbio e da maçaneta dos veículos: staphylococcus – que fica na pele e que pode causar infecções de garganta e pele, por exemplo – e enterobactérias – que se instalam no intestino e que podem causar diarreia.
Os estudantes colheram o material e levaram as amostras até o laboratório para que, em placas de meios de cultura seletivos, fosse possível revelar o nível de contaminação. E o resultado chamou a atenção.
No caso de ambas as bactérias, foi percebida uma diferença sensível entre os três tipos de veículos. Na amostra que apresentou os resultados para as enterobactérias, a média de crescimento de unidades formadoras de colônia foi de 10 a 15 colônias em veículo particular. Já o carro compartilhado por uma família apresentou número entre 100 e 120 colônias. Por sua vez, o carro do motorista de aplicativo apresentou número substancialmente maior, ultrapassando as 300 unidades formadoras de colônias.
Na análise de staphylococcus, os números foram semelhantes: de 5 a 10 unidades formadoras de colônia para motoristas individuais, cerca de 80 unidades formadoras de colônia nos carros compartilhados entre membros da família e mais de 300 unidades formadoras de colônia para o veículo dirigido por motorista de aplicativo.
“Isso mostra a importância da higienização e da limpeza nos nossos carros. Estamos em época de pandemia e nos preocupamos muito com o ambiente dentro de casa e no trabalho, mas esquecemos que o veículo pode ter contaminantes que podem causar riscos à nossa saúde. Então, é importante manter uma higiene semanal no veículo e sempre utilizar o álcool 70% nas mãos”, explica Andréia.
Ar-condicionado
Além das bactérias em partes do veículo onde os usuários normalmente colocam as mãos, o ar-condicionado acaba, muitas vezes, apresentando risco, mas é deixado de lado. Porém, ele também necessita de limpeza frequente. Uma segunda análise feita pelos alunos mostrou resultados impressionantes, a partir de placas deixadas por um período de 15 minutos dentro dos veículos com o ar ligado. Em veículos que não realizam a troca do filtro de ar, a contaminação se mostrou muito alta. Já os que trocam em períodos acima de 30 mil km, existe uma contaminação menor, que chega perto de ser imperceptível quando a troca é feita com a frequência correta.
“É bem visível a diferença. O ar-condicionado geralmente é esquecido, mas as partículas dos bolores podem contaminar as pessoas através da respiração, causando alergias, por exemplo”, explica a técnica.
“Produtos que tenham componentes químicos com ação de higienização e sanitização já vão diminuir a carga bacteriana da superfície. Mas, na verdade, é mais importante a constância, a quantidade de vezes que você limpa seu carro, do que o produto. No caso daquela pessoa que limpa com maior constância, certamente o número de unidades formadora de colônia de bactérias será menor”, completa Andréia.