Plataforma de acessibilidade desenvolvida na PUC-Campinas entra em fase de testes
Inovações resultaram em significativa redução de custo e a possibilidade de acionamento por pessoas com limitações nos membros superiores
No mês de outubro é celebrado o Dia Mundial da Paralisia Cerebral, distúrbio que afeta mais de 17 milhões de pessoas em todo mundo e é a deficiência física mais comum na infância. O nível e o tipo de comprometimento físico varia de pessoa para pessoa, mas segundo a organização World Cerebral Palsy Day, uma em cada quatro crianças não consegue andar, o que demanda cadeiras de rodas para locomoção.
Foi pensando em ajudar crianças com paralisia a terem mais autonomia de locomoção que, há cerca de três anos, o professor do curso de Engenharia Elétrica da PUC-Campinas, Amilton da Costa Lamas, iniciou pesquisas para criar uma plataforma de acessibilidade capaz de transformar qualquer cadeira de rodas, ou mesmo uma cadeira comum, em uma cadeira motorizada. Com ajuda de aluno do curso, o projeto evoluiu e a plataforma já é utilizada em testes na Therapies, centro de reabilitação de Campinas, fundado pela ex-aluna do curso de Fisioterapia da PUC, Marina Junqueira Airoldi.
Algumas crianças com paralisia cerebral apresentam limitações nos membros superiores o que dificulta movimentar cadeira de rodas convencionais. No entanto, cadeiras de rodas motorizadas são caras. Os preços variam conforme as características e aplicações, mas as mais baratas não saem por menos de R$ 5 mil. “Desenvolvemos uma plataforma móvel que motoriza qualquer cadeira de rodas”, explicou Amilton.
“Nas minhas visitas à Therapies eu vi crianças que sempre precisavam de ajuda para se locomover, mesmo na cadeira de rodas. Com a plataforma elas puderam se locomover sozinhas, isso significa autonomia, algo muito importante para elas e para os cuidadores”, relatou o professor da PUC-Campinas.
Em 2020, o aluno Rafael da Silva Domingues escolheu a plataforma como tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no projeto que recebeu o nome “Plataforma para treinamento de mobilidade adaptável e tecnologias assistivas”. Em sua versão inicial foi desenvolvida uma plataforma de madeira, com um motor, que poderia ser controlado por um teclado.
Buscando aprimorar a ideia original da plataforma, Rafael desenvolveu acionadores mais amigáveis, além do joystick, permitindo que mesmo crianças com limitações de movimento nos membros superiores possam acionar os comandos de movimento da plataforma. “O desenvolvimento dos acionadores se traduziu em uma significativa redução do custo da plataforma, o que deve permitir que mais crianças possam usar cadeiras motorizadas”, contou Rafael. Além disso, uma segunda versão da plataforma está sendo desenvolvida.
“Estamos buscando melhorias no motor e nas rodas e também testando um dimensionamento menor para que a plataforma entre, por exemplo, em um elevador”, adiantou Amilton. Ele busca financiamentos para tentar a aprovação da plataforma junto à Anvisa e, em seguida, dar sequência ao processo de fabricação e comercialização.
Autonomia para brincar
Os acionadores desenvolvidos pelo aluno da PUC-Campinas têm outra aplicação. Eles podem ser usados para ligar e desligar brinquedos. A possibilidade de desenvolver e comercializar acionadores para brinquedos surgiu a partir da parceria feita com a ONG Nossa Casa, que atende crianças com paralisia cerebral. Usando uma impressora 3D, Rafael fabrica os acionadores que já estão sendo comercializados em todo o Brasil, via internet.
“Mesmo carregando uma tecnologia relativamente simples, estes acionadores têm um custo alto. Meu objetivo é oferecer um produto mais acessível que possa dar autonomia para a criança com paralisia na hora de brincar”, contou Rafael, que já concluiu o curso de Engenharia de
Telecomunicações, mas ainda acompanha o desenvolvimento da plataforma com o professor Amilton.
Por Patricia Mariuzzo