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PUC-Campinas cria Biobanco de Dentes Humanos para pesquisas e treinamento de estudantes

Pacientes com dentes recém-extraídos poderão concedê-los mediante autorização expressa

A Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas conta, agora, com um Biobanco de Dentes Humanos (BDH). Em pleno funcionamento, de acordo com todos os regulamentos e normas técnicas, éticas e operacionais vigentes atualmente e com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), a instalação destina-se a prestar auxílio à pesquisa e ao ensino sem nenhum tipo de fim comercial, e os pacientes que, por ventura, passarem por um processo de extração de um ou mais dentes, poderão concedê-lo(s) mediante a assinatura de um termo de consentimento, no caso dos adultos, e de um termo de assentimento, no caso de crianças e adolescentes.

O BDH é dividido em duas partes: o Biobanco de Dentes Decíduos Humanos (BDDH), que tem como função principal o uso de dentes para pesquisas com a possiblidade de obtenção de células-tronco da polpa dentária; e o Biobanco de Dentes Permanentes Humanos (BDPH), que fornece o material necessário para que os estudantes possam desenvolver ensaios pré-clínicos durante as diversas disciplinas de graduação e pós-graduação oferecidas pela PUC-Campinas.

Os dentes utilizados pelos graduandos da Faculdade de Odontologia sempre serão entregues a eles com a obrigatoriedade de retorno ao Biobanco após a sua utilização, independentemente do grau de destruição ou desgaste que eles apresentem. Os que serão utilizados pelos pesquisadores, por sua vez, poderão ser concedidos após o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade.

Vários tipos de dentes
Segundo o Prof. Dr. Sérgio Luiz Pinheiro, um dos responsáveis pelo BDH, o local mantém desde dentes saudáveis, sem cárie ou quaisquer outros tipos de comprometimentos, até aqueles que contam com restaurações de resina ou amálgama, passando por amostras quebradas ou fraturadas. “Aqui no Biobanco nós utilizamos, inclusive, as raízes dos dentes, não só para pesquisas, mas também clinicamente, em treinamento”, comenta.

Dentes com restaurações de resina ou amálgama, quebrados ou fraturados também são aceitos no Biobanco de Dentes Humanos.

Ele diz ainda que com a utilização do Biobanco é possível reproduzir nos dentes localizados fora da boca, o que aconteceria com eles dentro dela, o que possibilita pensar no uso de novas técnicas, tecnologias e biomateriais.

Pesquisa e graduação
O professor, que realiza estudos com lasers para a descontaminação de dentes com lesão de cárie ou infecção no canal, explica que, através do Biobanco, é possível inserir dentes sadios em um meio de cultura (preparação química feita em laboratório que fornece nutrientes para o crescimento e desenvolvimento de microrganismos fora de seu habitat natural) “com uma bactéria que cause cárie, por exemplo, colocar açúcar dentro desse meio e produzir uma dada deterioração em laboratório, ou seja, é possível reproduzir a cárie em um laboratório para pesquisa e estudar diversos parâmetros de aplicação desse laser para a descontaminação dessa cavidade”.

“Além disso”, continua Pinheiro, “é possível ainda quantificar o número de bactérias existentes antes e depois da utilização do laser através de um recurso denominado Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana (método que utiliza a luz para ativar um processo de destruição celular de um agente infeccioso). Outro exemplo de pesquisa com dentes do BDH seria avaliar a adesão de sistemas adesivos e de resina composta aos dentes”.

“Agora, no caso da graduação, o estudante é treinado, em geral, com ‘dentes de plástico’, cuja consistência não é igual a de um dente humano, ou seja, com o dente real, proveniente do Biobanco, esse aluno ou aluna já pode ser treinado de uma melhor maneira, pois o que ele ou ela forem fazer será muito mais próximo da realidade do trabalho que eles irão exercer no futuro”, comenta o professor.

O BDH fornece a matéria-prima básica para a pesquisa odontológica realizada na PUC-Campinas, o que diminui a necessidade de se recorrer a outros agentes para adquirir esse tipo de produto.

Mudança de patamar
Pinheiro sinaliza também que a PUC-Campinas ter um Biobanco de Dentes Humanos para fornecer a matéria-prima básica para a pesquisa odontológica muda a Faculdade, e a Universidade como um todo, de patamar, uma vez que a necessidade de recorrer a outros agentes para adquirir esse tipo de produto diminui e “é possível que aconteçam mais pesquisas envolvendo dentes, o que, consequentemente, aumenta a produção científica, o que nos deixa cada vez mais em evidência, tanto nacional, quanto internacionalmente”.

Para o Prof. Dr. Carlos Eduardo Fontana, também responsável pelo projeto, o Biobanco é um ganho “tremendo” para a Universidade e que, com a aprovação do Conep, “o trabalho que já vinha sido planejado há muito tempo pôde ser colocado em prática e ter a possibilidade de armazenar legalmente um tecido, que é o dente, para que ele possa ser utilizado pelos graduandos, principalmente da Odontologia, e para as pesquisas que a PUC-Campinas necessita fazer, é algo que valoriza a Instituição, porque ela acaba se tornando uma referência no armazenamento desse tipo de tecido, algo que hoje é tão difícil de se conseguir para a realização de pesquisas e para a graduação dos futuros cirurgiões-dentistas”.

Limpeza dos dentes
Todos os dentes que chegam ao Biobanco com tártaro, restos de comida ou de algum material orgânico da extração passam por uma limpeza com instrumentos manuais adequados. Posteriormente, eles são armazenados em um recipiente com água, que é trocada semanalmente, a fim de mantê-los hidratados para que as suas características bioquímicas, tanto da parte inorgânica, quanto da orgânica, sejam mantidas e não prejudiquem o seu possível uso no futuro.

“Agora, se o dente vem com uma restauração de resina, por exemplo, a gente não a tira, até porque, quando ele for usado, estará em uma condição próxima àquela de um dente que se encontra na boca. E a gente também não sabe se, quando ele for usado, para o que será usado. Dessa forma, o dente já reconstruído com resina vai facilitar um treinamento de tratamento de canal, por exemplo, pois este estará plenamente adequado para essa situação”, esclarece Pinheiro.

E quem desenvolve grande parte desse trabalho são quatro estagiárias: Rayane Souza e Maria Eduarda Silva, que acabaram de concluir o 6º período do curso de Odontologia; Maria Paula de Toledo, que acabou de concluir o 4º período; e Letícia Enz, que acabou de concluir o 3º período.

Maria Eduarda Silva (à esq.) e Rayane Souza, que acabaram de concluir o 6º período do curso de Odontologia, são duas das estagiárias responsáveis pelo trabalho realizado no Biobanco.

Rayane explica que se candidatou à vaga por gostar de estar envolvida com os projetos da Faculdade e que o BDH lhe chamou a atenção, exatamente, por, até então, desconhecer a existência dos biobancos.

Maria Eduarda, por sua vez, acredita ser importante para a sua formação aproveitar tudo o que a Faculdade oferece e que “o Biobanco é um excelente exemplo disso”. Ela ressalta que, agora, o momento é de organizá-lo, em especial, por conta de “estar tudo muito no começo ainda” e que “o trabalho pesado, de fato, deve começar no semestre que vem, quando a gente der início à divulgação do nosso trabalho, tanto entre os alunos, quanto para a comunidade em geral, através das redes sociais”.

Ela diz ainda que estar no projeto, ao lado dos professores, despertou certo desejo pela área de pesquisa. “A gente vai dar início ao nosso trabalho de conclusão de curso no próximo semestre e deu, sem dúvida nenhuma, uma vontade de partir por esse caminho”, revela.

Maria Paula diz algo parecido com Maria Eduarda: que o Biobanco a tem feito se decidir por algo sobre o qual ela já refletia, que é trabalhar na área de pesquisa ao final da graduação. Letícia pensa assim também e diz que estar participando do projeto a aproxima muito da área laboratorial e de pesquisa e que “entender como tudo isso funciona é fascinante. Eu gostaria muito de seguir nesse campo e, desde que eu comecei a entender mais sobre o assunto, eu fiquei ainda mais animada para continuar”.

De onde vêm os dentes?
Os dentes que compõem o BDH são originários de vários lugares distintos, entre os quais, clínicas particulares, públicas ou pertencentes a instituições de ensino, postos de saúde e hospitais, bem como, de graduandos, pesquisadores e da população em geral.

De acordo com Pinheiro, é importante manter diferentes fontes de arrecadação para sempre manter uma quantidade de dentes adequada com a demanda da Faculdade de Odontologia.

Todos os dentes que chegam ao Biobanco com tártaro, restos de comida ou de algum material orgânico da extração passam por limpeza com instrumentos manuais adequados.

Ele ressalta ainda, em relação aos pacientes, que “nos casos onde um ou mais dentes sejam extraídos, deve-se perguntar se eles aceitam concedê-los ao Biobanco, mas não só: é necessário que eles sejam orientados sobre o destino de seus dentes e para o que eles serão utilizados e, se concordarem com a concessão, terão de assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no caso dos adultos, e um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, no caso de crianças e adolescentes”.

Quem pode utilizá-los?
De acordo com o regimento interno do BDH da PUC-Campinas, podem requisitar a utilização do material existente no Biobanco, respeitando um “estoque mínimo” para cada dente, que, atualmente, é de cem unidades, os responsáveis por projetos de pesquisa desenvolvidos dentro da Universidade (iniciação científica, mestrado e doutorado) e por projetos realizados por instituições e/ou profissionais-pesquisadores conveniados ou parceiros da PUC-Campinas. Os alunos de graduação da Faculdade de Odontologia também poderão solicitar os dentes para treinamento laboratorial ou atividades clínicas.

Como solicitá-los?
O pesquisador interessado em utilizar dentes do BDH deverá entregar ao Biobanco um projeto de pesquisa previamente aprovado pelo CEP da PUC-Campinas, além da documentação que comprove esse aceite. Além disso, será preciso preencher o Termo de Solicitação de Dentes e, em resposta, os dentes, já limpos, serão separados para a entrega. Logo depois, o pesquisador deverá preencher e entregar o Termo de Transferência de Material Biológico (TTMB), documento utilizado para controlar o intercâmbio não-comercial de gêneros desse tipo em território nacional.

Os BDHs pelo Brasil
A estrutura de organização de um Biobanco de Dentes Humanos (BDH) é bastante dinâmica e está diretamente relacionada com as funções que desempenha dentro das faculdades e universidades. Atualmente, 56 deles estão autorizados a funcionar em território nacional, sendo dois na Região Norte, quatro na Região Nordeste, dez na Região Sul e quarenta na Região Sudeste. Até o momento, a Região Centro-Oeste não possui nenhuma unidade do tipo.

Contato
Para saber mais sobre o Biobanco de Dentes Humanos da PUC-Campinas, basta entrar em contato através do telefone (19) 3343-6941 ou acessar o perfil do Instagram @biodh_pucc. O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 17h, e o endereço é Avenida John Boyd Dunlop, s/nº, Jardim Ipaussurama, no prédio da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, localizada no Campus II da Universidade.



Daniel Bertagnoli
2 de julho de 2024