PUC-Campinas inaugura Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Dra. Nicéa Quintino Amauro
Localizado no Campus I, espaço será lançado no dia 23 de agosto, reforçando a luta da Universidade contra o racismo, com o objetivo de desenvolver a formação continuada da comunidade acadêmica e estruturar atividades, práticas sociais e educativas
A PUC-Campinas inaugura, no próximo dia 23 de agosto, às 19h, o Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Dra. Nicéa Quintino Amauro, com o apoio e participação do movimento negro. Trata-se de um movimento da Universidade que reforça a luta contra o racismo e o resgate da identidade da população negra.
O Centro terá como objetivos realizar atividades de “Diálogos sobre Racismo” e desenvolver a formação continuada da comunidade acadêmica interna – conectando docentes, discentes e funcionários. Além disso, estará de portas abertas para receber grupos de pesquisadores e membros da comunidade de interesse das relações étnico-raciais.
Por meio dessa união, serão fomentados estudos sobre o tema e será estruturado o observatório das Relações Étnico-raciais, bem como o Repositório Digital – Teses, dissertações, TCC’s e práticas sociais e educativas.
A inauguração receberá programação especial no Campus. Primeiramente, às 19h, haverá o descerramento do espaço, que fica no piso térreo do prédio H13. O espaço ganhará um visual temático com concepção conceitual de Andrea Mendes, curadora, educadora, artista e militante do movimento negro; e projeto gráfico da artista juntamente com Ike Banto, que ficou responsável pelas ilustrações.
“A ideia é uma perspectiva pautada no trânsito Atlântico. As cores são utilizadas para dialogar sobre a memória do passado com o futuro. A cor frontal é a do mar, usado como objeto de trânsito. Ao entrar na sala, existe um dégradé em quatro tons, como a margem do mar. Na sala existe a representação de dois painéis: um com o conceito do passado ancestral – com figuras de mulheres – e, na outra parede, em frente, a representação do futuro, pautado na tecnologia e na figura da Dra. Nicéa, que dá nome ao Centro. O espaço ainda conta com símbolos da escrita africana em grafismo. Na parede que conecta as outras duas tem uma ponte para unir os dois continentes, Africano e Sul-Americano”, explica a idealizadora do projeto artístico.
Depois de inaugurado o espaço onde irá funcionar o Centro, o evento continuará com a apresentação de todos os detalhes e também com uma apresentação artística, no Auditório do Campus I, agendada para 20h.
Os estudantes da PUC-Campinas poderão acompanhar de perto esse momento importante na história da Universidade. Além do Auditório, estarão disponíveis as salas 700, 800 e 900 com transmissão ao vivo. No Campus II, o evento poderá ser acompanhado no Auditório Monsenhor Salim.
“A instituição do ‘Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Dra. Nicéia Quintino’ é um ganho para a PUC-Campinas e para toda comunidade da região, uma vez que reforça a missão universitária de uma formação justa, antirracista e pautada na igualdade racial. A iniciativa da PUC-Campinas é construir um centro de referência de pesquisa, ensino e extensão para todos os cursos. Ainda, contará com a participação de membros da sociedade civil que foram importantes para construção deste Centro, especialmente, da Comendadora Edna Lourenço e sua equipe”, comenta a professora da Faculdade de Direito e responsável pelo Núcleo de Ensino Clínico em Direitos Humanos, Dra. Waleska Miguel Batista.
Homenagem a Nicéa Quintino Amauro
O Centro leva o nome da Dra. Nicéa Quintino Amauro, ativista intelectual negra que faleceu em junho de 2023. Ela deixou para a humanidade um legado de lutas, contra o racismo, sexismo e o capitalismo. Filha de Griot Mestre Lumumba e da Professora Cidinha Quintino Amauro, que acompanhou de perto longas jornadas de lutas no combate e no enfrentamento ao racismo patriarcal em uma sociedade de classes, Nicéa é bacharel em Química pelo Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), e cofundadora da Casa Laudelina de Campos Mello – Organização da Mulher Negra (1989), na cidade de Campinas, SP.
Forjada no ativismo negro desde seu nascimento, Nicéa foi responsável pela Coordenação de Comunicação e Pesquisa, Coordenadora Adjunta da Rede/Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB e impulsora do feminismo negro interseccional contemporâneo. Uma mulher preta das Exatas, das Ciências e da Tecnologia, Doutora em Química, Coordenadora Executiva do FOPIR – Fórum Permanente pela Igualdade Racial e Conselheira do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR, na área de educação (2019-2020).
Ela contribuiu para a adequação da Base Nacional Comum Curricular – BNCC na área de Ciências da Natureza e para as Relações Étnico-Raciais; foi orientadora no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECM/UFU) e no Programa de Pós-Graduação em Química (PPQUI/UFU); possui pesquisas nas áreas de currículo, avaliação e experimentação no ensino de química e descolonização do currículo de ciências; foi presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN)-(2018-2020) e professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Nicéa inovou o estudo de química por meio do “Projeto Crespura”, um estudo pioneiro multidisciplinar em química, ampliando conhecimentos sobre cabelo crespo, desde sua composição química, textura, permeabilidade até formas de cuidado capilar. Ela também inovou no estudo do carvão, para além da química, e lançou olhar ao trabalho análogo à escravidão nas carvoarias brasileiras.